Título: Otimismo de olhos puxados
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 05/05/2009, Economia, p. 19

Primeira alta da indústria chinesa em nove meses faz Bolsa de São Paulo saltar 6,59%

A China ditou o otimismo dos mercados financeiros ontem: a atividade da indústria de transformação chinesa teve a primeira alta em nove meses, alimentando a expectativa de recuperação da economia global. Além disso, há a expectativa de que o país possa crescer 7% este ano. Isso provocou euforia na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O Índice Bovespa (Ibovespa) saltou 6,59%, a maior alta desde 2 de janeiro, aos 50.404 pontos - marca perdida em 26 setembro, dez dias após a quebra do banco Lehman Brothers, quando a crise mundial se agravou. O volume movimentado, de R$7,22 bilhões, também foi o maior desde outubro, mostrando a entrada maciça de estrangeiros. O dólar acompanhou o bom humor do dia e caiu 2,34%, para R$2,13, a menor cotação desde 5 de novembro do ano passado.

O Índice CSLA China de Gerenciamento de Estoques, que avalia a indústria manufatureira, subiu de 44,8 para 50,1 pontos em abril. Uma leitura acima de 50 indica expansão. Já o índice de produção passou de 44,3 para 51,3 pontos, a primeira alta em nove meses.

Em Nova York, o índice Dow Jones avançou 2,61%, para o maior patamar desde 13 de janeiro. O S&P teve alta de 3,39%, superando 900 pontos pela primeira vez desde 8 de janeiro. Já a bolsa eletrônica Nasdaq subiu 2,58%, para o maior nível de pontos desde 4 de novembro de 2008. Também influenciaram dados do mercado imobiliário. As vendas pendentes de imóveis subiram 3,2% em março frente ao mês anterior, segundo Associação Nacional dos Corretores, quando os analistas esperavam estabilidade. E o governo informou que os gastos com construção subiram 0,3% em março, depois de cair 1% em fevereiro. A estimativa era de queda de 1,6%.

Na Ásia, Tóquio não funcionou por ser feriado, mas outras bolsas tiveram altas significativas, como Cingapura (5,65%) e Hong Kong (5,54%). Nos mercados europeus, a expectativa com a recuperação da China puxou as ações de petrolíferas, como Galp Energia (9%) e Statoil Hydro (5,4%). Com feriado em Londres, Frankfurt avançou 2,79% e Paris, 2,47%.

No Brasil, as ações ligadas a matérias-primas também foram beneficiadas. A Petrobras teve alta de 8,58%, e a Vale, de 10,86%. Juntas, elas têm peso de 35% no Ibovespa. Com isso, a bolsa brasileira foi a que teve a maior alta entre os principais mercados financeiros do mundo no dia. No ano, a bolsa brasileira já sobe 34,23%, também liderando os ganhos entre as mais importantes.

- A China puxou, mas todo o ambiente está mais aliviado na conjuntura global. Nas últimas semanas, já havia pouca gente querendo vender ações - disse Álvaro Bandeira, economista-chefe da corretora Ágora.

Alta de construtoras chega a 13,97%

Mas o destaque no Ibovespa foi das ações de construtoras, graças à expectativa de volta do crédito. Cyrela subiu 13,97%, Gafisa, 11,29%, e Rossi, 10,10%. Entre os papéis do índice, apenas os da JBS - dona do frigorífico Friboi e da marca Swift - fecharam em queda, de 0,81%, por causa da gripe suína.

- Foi mais uma rodada das construtoras, era para ser das empresas de commodities (matérias-primas) em função da China. Mas o setor depende muito da economia internacional toda mais fortalecida - disse Eduardo Roche, chefe de análise da Modal Asset.

(*) Com agências internacionais