Título: Itaipu: para negociador paraguaio, proposta de alongar divida é piada
Autor: Figueiredo, Janaína; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 05/05/2009, Economia, p. 24

Brasil pode compensar país vizinho com R$2 bi do BNDES para projetos

BUENOS AIRES e BRASÍLIA. A possibilidade de ampliar o prazo para que o Paraguai pague sua dívida referente à construção da hidrelétrica de Itaipu - proposta que estaria sendo estudada pelo governo Lula, segundo o ministro de Minas e Energia Edison Lobão - foi considerada "uma piada de mau gosto" pelo engenheiro Ricardo Canese, coordenador da comissão de negociadores paraguaios.

- Se a proposta do Brasil for simplesmente estender o prazo para o pagamento de uma dívida que consideramos ilegítima, a única coisa que conseguirão será estremecer o relacionamento bilateral - disse Canese, às vésperas de um encontro entre os presidentes Lula e Fernando Lugo, em Brasília.

Lobão diz que Brasil não negocia sob pressão

O presidente do Paraguai desembarcará em Brasília na quinta-feira. Segundo Lobão, nesta rodada de negociações o Brasil poderia propor estender o prazo para o pagamento da dívida paraguaia de 2023 para até 2040.

- São piadas de mau gosto. Nenhum governo paraguaio aceitaria sequer discutir essa proposta - disse Canese ao GLOBO, por telefone.

Para o governo Lugo, a dívida de Itaipu, estimada em US$19,6 bilhões, deveria ser paga por empresas elétricas brasileiras: Furnas e Eletrosul. Lobão, por sua vez, disse ontem que o Brasil não negocia sob pressão.

- O presidente Lula quer ter uma liderança diferente na região, mas Lobão vem de um partido que respaldou a ditadura, tem uma posição mais dura. Seria uma grande decepção se o Brasil insistisse em manter os termos de um tratado da ditadura - afirmou Canese.

Lugo não deve sair de mãos vazias do encontro. Mesmo que o governo brasileiro não concorde em revisar o tratado de Itaipu nos moldes reivindicados por Lugo, não interessa a Lula ver o governo paraguaio fragilizado.

Para não revisar o tratado, assinado na década de 70, o governo brasileiro prefere oferecer outros benefícios para compensar o alto nível de ambição do Paraguai, que inclui até mesmo o perdão de parte da dívida do país com o Brasil, estimada em cerca de US$18 bilhões. Estão sendo cogitados, por exemplo, quase R$2 bilhões do BNDES para projetos do setor produtivo, sobretudo o energético.