Título: Ahmadinejad cancela visita polêmica a Lula
Autor: Carvalho, Jailton de; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 05/05/2009, O Mundo, p. 26
Preocupado com eleições, iraniano adia viagem à América do Sul em cima da hora. Empresários desembarcam hoje
BRASÍLIA. O presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, cancelou ontem a visita que faria à América do Sul, incluindo passagens por Venezuela e Equador. No Brasil, ele se encontraria amanhã com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Numa mensagem enviada a Lula, Ahmadinejad reafirmou, no entanto, o interesse em ampliar as relações bilaterais e pediu que o encontro seja remarcado para depois das eleições presidenciais no Irã, marcadas para 12 de junho. Segundo diplomatas que estavam acompanhando de perto os preparativos da viagem, Ahmadinejad teria decidido permanecer no Irã porque estaria perdendo terreno na campanha eleitoral em que corre o risco de não se reeleger.
- Se ele (Ahmadinejad) não se cuidar pode perder a eleição - afirmou um diplomata brasileiro.
Mesmo com o cancelamento, o Itamaraty confirmou o encontro entre mais de 200 empresários brasileiros e iranianos hoje, em São Paulo. Na agenda bilateral está o aumento dos negócios entre os dois países nas áreas de mineração, tecnologia, alimentos, petroquímica, entre outras.
Brasil se mostra disposto a marcar novo encontro
O anúncio do adiamento da viagem foi precedido por informações desencontradas durante o dia. Começou por um anúncio feito pela agência estatal iraniana, não confirmado pela embaixada do país em Brasília. Somente no fim da tarde o Itamaraty ratificou a informação, com a divulgação de uma cópia da nota de Ahmadinejad a Lula.
"Peço a Vossa Excelência (Lula) aceitar o adiamento da visita oficial para outra oportunidade, depois da eleição presidencial no Irã, cuja data será oportunamente definida pelas duas chancelarias", diz o texto do presidente iraniano. Diplomatas brasileiros afirmaram que um novo encontro ainda será marcado.
- Existem certos segmentos que acham conveniente o isolamento do Irã no mundo. Esta não é a posição do governo brasileiro. Temos interesse na visita do presidente Ahmadinejad e numa aproximação ampla com o Irã - afirmou o embaixador Roberto Jaguaribe, subsecretário-geral para Assuntos Políticos.
O governo brasileiro, porém, mantém as críticas que fez ao discurso de Ahmadinejad em Genebra, mês passado, quando o presidente iraniano minimizou o Holocausto, durante conferência da ONU sobre o racismo. Mas, segundo o embaixador, as diferenças não podem impedir o diálogo entre os dois países.
- Se o Brasil fosse manter relação só com quem tem plena afinidade, nós teríamos um número bem restrito de relações - disse o embaixador.