Título: Ajuda de R$ 100 bi
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Fonte: Correio Braziliense, 27/03/2009, Economia, p. 13

Encontro de lula e do primeiro-ministro do reino unido sela acordo para garantir a reativação do comércio mundial

Presidente Lula e primeiro-ministro britânico, Gordon Brown: Convergência que visa reformar sistema financeiro O presidente Luiz Inácio Lula da Silva aceitou apoiar na cúpula do G-20, que representa as 20 maiores economias do mundo, a proposta de criar um fundo de US$ 100 bilhões para financiar o comércio internacional. A ideia é do primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, que se encontrou ontem com Lula na série de consultas preparatórias que o britânico vem fazendo com vistas à reunião do G-20, na semana que vem, em Londres. Lá, chefes de Estado e de governo vão tentar encontrar uma fórmula comum para combater a crise econômica global e regulamentar o sistema financeiro.

¿Centenas de empresas estão impedidas de fazer comércio por falta de crédito. A comunidade internacional não pode permitir isso. Estamos propondo a criação de um fundo de pelo menos U$ 100 bilhões para ajudar o mundo nesse campo do comércio internacional. Isso é absolutamente necessário para passarmos pela crise¿, disse Brown após a reunião com Lula. Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, o Brasil vai contribuir para o fundo, sem que isso prejudique as contas públicas e as reservas internacionais.

Em entrevista conjunta, Lula e Brown concordaram sobre a necessidade de reforma nas regras do mercado para evitar uma outra crise global. Ministro da Fazenda britânico nos 10 anos de governo trabalhista de Tony Blair (1997-2007), Brown chegou a descartar boa parte do credo liberal adotado em seu país e no resto do mundo nos anos 1980 e 1990. ¿O antigo Consenso de Washington morreu e não podemos voltar ao modelo de sistemas bancários do passado. Temos que mudar nossa lógica financeira para que as pessoas e as empresas se sintam seguras a usar os bancos. O novo consenso que estamos construindo tem que garantir isso¿, afirmou.

Para Lula, as medidas de saneamento financeiro adotadas pelos governos não estão recuperando o nível da oferta de empréstimos a empresas e consumidores. ¿O primeiro problema é fazer voltar fluir o crédito. Essa é nossa primeira obrigação e até agora as medidas tomadas não ajudaram¿, disse. ¿Sem crédito, a economia vai atrofiar.¿ O presidente criticou a política do governo dos EUA de usar recursos públicos para limpar os balanços dos bancos. ¿Tomara que dê certo. Mas não acho que devemos gastar o pouco dinheiro que temos comprando títulos podres, que deveriam ir para o arquivo.¿

Lula defendeu o papel do Estado na regulação do mercado e voltou a dizer que a crise foi criada pelos financistas ricos de Wall Street, mas acabou prejudicando injustamente as populações de baixa renda. ¿Não podemos permitir que os pobres paguem por uma crise feita por ricos, sobretudo porque ela não foi gerada por nenhum negro, índio ou pobre. Essa crise foi gerada e fomentada por comportamentos irracionais de gente branca, de olhos azuis. Antes da crise, eles sabiam tudo. Agora, não sabem de nada¿, alfinetou.

Tentando evitar constrangimentos, Brown não quis apontar culpados. Ele disse que veio ao Brasil por causa da importância do país no cenário mundial, acrescentando que a retomada do crescimento vai depender da reação dos emergentes, responsáveis por 70% da expansão global. O presidente Barack Obama, deve ser a estrela do G-20. Desde o início da semana, ele vem pedindo aos líderes políticos que unam esforços para o combate à crise.