Título: Dólar cai frente a outras moedas globais
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Globo, 08/05/2009, Economia, p. 19

Recuo nos últimos quatro dias chega a 11,74%. Frente ao real, desvalorização é de 3,20%

RIO e BRASÍLIA. A forte desvalorização do dólar nos últimos dias, que chegou a ser negociado abaixo de R$ 2,10 e fechou ontem a R$ 2,11, estável em relação ao fechamento anterior, pode ser apenas um refresco momentâneo.

A moeda perdeu valor no mundo todo por causa de notícias menos negativas sobre a economia americana. Especialistas explicam que os investidores saíram de aplicações em renda fixa nos Estados Unidos (EUA), consideradas as mais seguras em tempos de crise, e foram em busca de mais risco ¿ e ganhos ¿ em outras regiões. No Canadá, por exemplo, a queda do dólar foi de 11,74% frente ao dólar canadense, só nos últimos quatro dias. Na Austrália, de 3,75%. Frente ao real, a queda foi de 3,20%. Mas, se novas notícias ruins forem divulgadas sobre a economia global, nada impede que a moeda volte a subir.

No Brasil, grande parte do fluxo de dólares tem ido para a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O saldo entre compras e vendas de ações por estrangeiros foi positivo em R$ 3,778 bilhões em abril, e já chegava a R$ 1,433 bilhão em maio, até o dia 4.

Outra fonte de entrada de recursos são as exportações. O sócio da Cenário Investimentos, José Alfredo Lamy, diz que a valorização dos preços das commodities contribuiu para a alta maior da moeda de países exportadores, caso de Brasil, Austrália e Canadá.

¿ A atividade econômica estava em queda livre e agora há um certo alívio.

A Austrália e o Canadá são grandes exportadores de minério e produtos agrícolas e se beneficiaram mais. Porém, toda vez que há menor aversão a risco, o dólar se desvaloriza e outras moedas perdem valor ¿ diz.

Ele acha que a queda do dólar pode ser temporária: ¿ A recuperação da economia global será demorada. Olhando para o curto prazo, no Brasil, o dólar pode cair a R$ 2. Mas até o fim do ano o real tende a se desvalorizar ¿ diz, ressaltando que movimento similar acontecerá com outras moedas.

O analista de câmbio da Fair Corretora Mário Battistel concorda: ¿ O estrangeiro é muito rápido. Se ele perder algo lá fora ou se surgir qualquer boato, ele sai de uma hora para outra e volta para os EUA ¿ diz.

Ministro diz que alta do real frente ao dólar é uma ¿bolha¿ Outro fator pontual que contribui para a desvalorização do dólar é a venda da moeda por exportadores.

Segundo o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, muitos dos contratos foram fechados com o dólar a R$ 2,30.

¿ Todos achavam que o câmbio ficaria naquele nível, mas ele foi caindo até R$ 2,10. É melhor garantir agora uma taxa mais alta que esperar até que o dólar caia mais ¿ diz.

O diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), Mário Mesquita, negou que o BC tente direcionar o câmbio. Segundo ele, o objetivo das operações do BC no mercado é monitorar excesso ou falta de moeda em circulação. Na última terça-feira, o BC fez leilões de swap cambial reverso. Na prática, comprou dólar no mercado futuro pagando em troca uma taxa de juros. O diretor explicou que o objetivo foi ¿zerar¿ operações contrárias (de venda de moeda no mercado futuro), feitas na época mais aguda da crise.

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, afirmou ao GLOBO que considera ¿uma bolha¿ o atual movimento do dólar.

¿ Há sinais importantes de recuperação no Brasil. Houve aplicações grandes de dinheiro na Bolsa.

Não acreditamos que esse movimento persista ¿ afirmou.

Ontem, o volume de negociações com o dólar foi pequeno, em torno de US$ 1 bilhão. A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) recuou 2,80%, para 50.058 pontos, com investidores embolsando lucros dos últimos dias

COLABORARAM: Felipe Frisch e Eliane Oliveira