Título: Itaipu: presidentes negociam saída honrosa
Autor: Gois, Chico de; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 08/05/2009, Economia, p. 21
Sem acordo, Lula e Lugo emendam jantar em reunião. Paraguaio diz que "a ninguém convém ter vizinho pobre"
Chico de Gois, Eliane Oliveira e Mônica Tavares
BRASÍLIA. Quase três horas de reunião não foram suficientes para destravar, ontem, as negociações entre Brasil e Paraguai sobre o acordo relativo à hidrelétrica de Itaipu. O pacote que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ofereceu ¿ US$ 1,7 bilhão em crédito e melhoria dos termos de compensação pela exclusividade brasileira na compra do excedente de energia da usina ¿ foi considerado insuficiente por seu colega paraguaio, Fernando Lugo. Este insistiu em que o Paraguai possa vender a energia que exceder a cota paraguaia diretamente ao mercado brasileiro, sem passar pela Eletrobrás.
Lula rechaçou a ideia.
Lugo insistiu, sobretudo, no aumento da tarifa paga pelo Brasil ao Paraguai e no fim da exclusividade.
Foi informado de que um ajuste, inclusive uma revisão tarifária, poderia ser até negociado, mesmo que não agora.
Mas acabar com o princípio de que a energia só pode ser vendida à Eletrobrás seria mexer no tratado e disso, disse uma fonte, o Brasil não abre mão.
O impasse acabou ganhando uma conotação política. Durante um jantar no Palácio da Alvorada, Lula e Lugo decidiram discutir uma ¿saída honrosa¿, classificou uma fonte que acompanha as negociações.
O grande nó seria encontrar uma solução política para os pleitos de Lugo. O paraguaio passa por um grande desgaste, após as acusações de que teve vários filhos quando era bispo.
Com isso, Lugo reacendeu o discurso nacionalista ¿ vitorioso nas eleições ¿ de que o Brasil explora o Paraguai, recusando-se a mudar condições que prejudicariam o país vizinho.
Lugo precisa voltar a Assunção com algum benefício que possa chamar de concessão grandiosa do Brasil. Lula só aceita ceder em pontos que não sejam entendidos como abrir mão de direitos e curvarse à vontade dos vizinhos.
Lula deixou o Itamaraty visivelmente contrariado. De manhã, dissera que falaria após a reunião, mas mudou de ideia.
Lugo também saiu com o semblante fechado. A declaração que ambos dariam foi cancelada pouco antes das 20h30m. Os presidentes falarão hoje, às 8h, antes de embarcarem para Mato Grosso do Sul, para a inauguração do Trem do Pantanal.
Lugo pede ajuda para industrializar Paraguai O pacote brasileiro continha três pontos: dobrar de US$ 100 milhões para US$ 200 milhões o valor pago pelo Brasil pelo direito de exclusividade sobre a energia a que o Paraguai tem direito e não usa; um fundo de US$ 1,5 bilhão do BNDES para infraestrutura; e a liberação de um crédito a fundo perdido de US$ 100 milhões, do Tesouro Nacional, para obras sociais.
De manhã, Lugo esteve com os presidentes da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e do Senado, José Sarney (PMDBAP).
Ele pediu ajuda para que o país possa deixar de ser agroexportador e caminhe rumo à industrialização: ¿ A ninguém convém ter um vizinho pobre.
Lugo também disse que veio ¿com a mente e o coração abertos, nesta primeira visita, para construir esse diálogo¿.
Na passagem pelo Congresso, Lugo atraiu a atenção de parlamentares e funcionários.
A ¿musa¿ da Câmara, deputada Manuela D¿Ávila (PCdoB-RS), estava entre os que foram recebêlo. Manteve-se, no entanto, longe de um abraço mais apertado, estendendo o braço para cumprimentá-lo.
COLABOROU Isabel Braga