Título: Sob pressão, Delúbio desiste de voltar ao PT
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 09/05/2009, O País, p. 3

Ex-tesoureiro critica petistas e busca novo partido para disputar vaga de deputado por Goiás

BRASÍLIA. Sob pressão do Planalto e de ex-companheiros da cúpula do PT, o ex-tesoureiro Delúbio Soares desistiu de voltar ao partido. Pelo menos por enquanto. Seu pedido de refiliação seria discutido ontem na reunião do diretório nacional, para a qual foi convidado. Ao tomar a palavra, Delúbio frisou o quanto serviu ao partido, cumprindo fielmente as missões e tarefas que o PT lhe delegara. Depois, pediu que seu pedido de reintegração fosse retirado de pauta, alegando que discutirá com a mulher e os amigos que rumo tomará.

Delúbio planeja disputar, por Goiás, uma vaga de deputado federal.

Há especulações de que pode se filiar ao PP, partido do governador Alcides Rodrigues, ou ao PMDB, do prefeito de Goiânia, Íris Rezende. Amigos dele dizem que, informalmente, já tem convites do PDT e do PTdoB. Na cidade onde vota, Buriti Alegre, o PMDB é contra sua filiação. O presidente do diretório estadual do PMDB, Adib Elias Junior, disse que só se manifestará se Delúbio pedir a filiação: ¿ Esse problema é do PT, não do PMDB.

Presidente em exercício do PMDB, a goiana Iris de Araújo não se entusiasma: ¿ Esse é um assunto do PT; toma que o filho é teu.

À noite, o presidente do PT, Ricardo Berzoini, disse que o pedido foi incluído e retirado da pauta por vontade de Delúbio e que não há previsão de nova análise. Admitiu que o PT estava dividido e defendeu o ex-companheiro: ¿ Ele fez pronunciamento ponderado, sereno, a opção dele. Fez um gesto de grandeza política. O Delúbio foi vítima de um processo político. O financiamento de campanha é insustentável e tem que ser mudado.

Delúbio, segundo petistas, estava tenso e emocionado na reunião. Disse que o PT está no seu DNA e que a maioria dos companheiros que impedem seu retorno não contribuiu mais do que ele para construir o partido: ¿ Não fui, não sou e nem serei vítima.

Mas não fui senão, em todos os instantes, sem exceção, fiel cumpridor das tarefas que me destinou o PT.

Delúbio afirmou que a fatura pela eleição do presidente Lula seria cobrada dos petistas e que, como ele, muitos pagam o preço ¿da proscrição política, da desmoralização pessoal, da incompreensão e ingratidão¿ dos próprios petistas, citando o ex-ministro José Dirceu como outra vítima: ¿ Gostaria de estar sozinho (...) enfrentando o pelotão de fuzilamento moral dos adversários que derrotamos, dos interesses que contrariamos, de certa parte da mídia e, desgraça das desgraças, de uns poucos petistas que erraram e erram, em avaliação rasa, imediatista, eleitoreira e desprovida de razão.

Delúbio criticou quem defendeu seu direito de se refiliar só após as eleições de 2010, para evitar desgastes ao projeto eleitoral do PT, e ironizou a acusação de ser o pivô do mensalão: ¿ Do que me acusam? Quantos são os políticos brasileiros que realizaram campanhas eleitorais sem que alguma soma, por menor que fosse, não tenha sido contabilizada? (Isabel Braga)