Título: PT dá prioridade total para Dilma
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 09/05/2009, O País, p. 3

Em busca de alianças para sucessão de Lula, partido manda estados adiarem prévias até 2010

Para tentar garantir alianças, principalmente com o PMDB, em torno da candidatura da ministra Dilma Rousseff à Presidência, o diretório nacional do PT proibiu ontem a realização, até fevereiro de 2010, de qualquer prévia ou disputa interna no partido em torno de candidaturas estaduais. A ordem da direção do PT aos diretórios estaduais atende a anseios do PMDB. Mas é um banho de água fria, por exemplo, nas pretensões do ministro da Justiça, Tarso Genro, de viabilizar sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul, em encontro já marcado para julho. Afetará ainda a disputa no PT entre o deputado Geraldo Magela e o ex-ministro Agnelo Queiroz pelo governo do Distrito Federal, com prévias marcadas para agosto deste ano.

O presidente do PT, Ricardo Berzoini, foi claro ao afirmar que a decisão foi a de não permitir que candidaturas estaduais virem fato consumado, prejudicando prováveis alianças com partidos da base governista em torno da candidatura de Dilma e mesmo para as disputas regionais. A resolução aprovada ontem é taxativa: "A tática para as eleições de 2010 será orientada para a vitória na eleição presidencial, submetendo a ela todos os processos estaduais".

- Estão canceladas as prévias no DF e o encontro no Rio Grande do Sul. Os diretórios terão que se reunir para adaptar sua tática à resolução - disse Berzoini. - Só autorizaremos processos estaduais de escolha pelo voto, ou seja, prévias, encontros com votação, a partir do congresso nacional, em fevereiro.

Tarso não participou da reunião. Os representantes do PT gaúcho brigaram, mas só conseguiram incluir na resolução brecha para que o processo possa ser deflagrado em caso de consenso interno - com autorização da direção nacional. No caso do Rio Grande do Sul, o PMDB pressiona o Planalto para que o PT não concorra, viabilizando o candidato do partido, que seria o ex-governador Germano Rigotto ou o prefeito José Fogaça.

PMDB não terá exclusividade

Berzoini deu como exemplo de candidatura consensual no PT a da senadora Ideli Salvatti, em Santa Catarina:

- O nome até agora é o da Ideli. E, se surgir uma proposta de aliança, se faz com a candidata. Queremos assegurar o absoluto entendimento de que a prioridade é a eleição nacional, e que estaremos abertos para discutir com os aliados. O diretório nacional tem que ter capacidade de coordenar o processo, e isso fica difícil com 12, 13 candidatos consolidados.

Berzoini enfatizou que a aliança será feita com todos os partidos aliados e não só com o PMDB. Indagado se a decisão não poderia fazer com que o PT fosse "engolido" nos estados, como alegam petistas, disse:

- O PT não vai ceder nem de mais nem de menos. Vai discutir para ter uma aliança ampla. Quer ganhar com a aliança nacional e nos estados.

O deputado Magela participou da reunião e mostrou conformidade:

- Submeto meus sonhos individuais ao projeto de ganhar a eleição presidencial. E essa deveria ser a postura de todos, inclusive do ministro da Justiça.

A resolução diz que o processo de organização das decisões eleitorais só começará após o congresso do PT, de 18 a 21 de fevereiro. É quando o PT ratificará a política de alianças, a tática eleitoral e aprovará o programa de governo, além de formalizar a candidatura à Presidência. Berzoini explicou por que não foi formalizado ontem o apoio à pré-candidatura de Dilma:

- Não há como deliberar agora e nem era necessário. Todos entendem a simbologia da Dilma, que é peça central na continuidade do projeto do governo Lula.

O ex-prefeito de Recife João Paulo Lima e Silva deixou o encontro avisando que em Pernambuco a aliança com o PMDB é impossível. E comentou as pressões de setores do PMDB por causa da perda de cargos na Infraero:

- Esse é o PMDB. Temos que nos relacionar com o PMDB.