Título: Um dólar que cai
Autor: Rangel, Juliana; Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 09/05/2009, Economia, p. 27

BC compra US$250 milhões mas moeda fecha no menor nível desde outubro

Diante do derretimento do dólar, que caiu 5,18% apenas esta semana, o Banco Central (BC) mudou radicalmente de estratégia, na comparação com os últimos oito meses. Depois de comprar dólares no mercado futuro na terça-feira, com operações de swap cambial reverso (em que paga juros em troca da variação cambial), a autoridade monetária se concentrou ontem no mercado à vista e comprou US$250 milhões para enxugar o excesso em circulação. Ainda assim, o dólar fechou em queda de 2,05%, a R$2,068 - a menor cotação do dia, e também a mais baixa desde o começo de outubro.

A última vez que o BC comprou dólar no mercado à vista foi em 10 de setembro, antes do recrudescimento da crise global. Após 15 de setembro, quando o cenário se deteriorou, com a quebra do banco Lehman Brothers, o BC fez o inverso. No auge da crise, chegou a vender US$14,5 bilhões de suas reservas.

Objetivo das compras é recompor reservas, diz BC

O BC divulgou um comunicado repetindo que a compra de dólares deve ser vista como um esforço de recomposição das reservas, no contexto de um regime de metas de inflação com câmbio flutuante. E que não deve ser confundida com a fixação de tetos ou pisos para o dólar. O BC lembrou que o fato de o país ter reservas trouxe "benefícios inegáveis", permitindo o enfrentamento da "mais severa crise financeira observada na economia mundial desde os anos trinta", sem rupturas de política ou quebra de contratos. E ressaltou a importância das reservas para dar liquidez ao financiamento do comércio exterior.

O ex-presidente do Banco Central e sócio da Tendências Consultoria Gustavo Loyola lembra que o fluxo cambial está positivo tanto na conta comercial quanto na financeira, o que provoca a queda da moeda, apesar das atuações do BC.

- Do ponto de vista macroeconômico, o Brasil passou pelo teste da crise. E se beneficiou, na medida em que os agentes de mercado passaram a achar que o pior nos EUA já passou e procuraram novos ativos para investir. Além disso, os indicadores da China melhoraram, o que beneficia o Brasil, que exporta para o país.

Para o especialista, são pequenas as chances de o dólar voltar às máximas. A moeda chegou a R$2,536 em dezembro.

- Naquela época houve a quebra do Lehman Brothers, e empresas brasileiras tiveram problemas pois investiram em derivativos de câmbio (apostaram na valorização do real). Foi uma incerteza grande, e a sensação foi de pânico. O dólar pode até voltar a subir se algo acontecer lá fora, mas não nesse nível.

Bovespa acumula alta de 8,68% na semana

O gerente de câmbio da corretora Liquidez, Francisco Carvalho, avalia que o mercado estava esperando a volta do BC ao mercado à vista. A atuação via mercado futuro havia sido criticada por alimentar especuladores e não tirar o eventual excesso de dólares do mercado:

- O BC vai acabar acumulando reservas novamente, acho positivo. O fato de termos acumulado reservas lá atrás foi muito bom, não sentimos tanto o efeito da crise.

A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 2,67% ontem, para 51.395 pontos, com investidores aproveitando a queda da véspera para comprar ações. Com isso, subiu 8,68% desde segunda-feira e completou a nona semana seguida de alta, período em que acumula 38,51%. Um dos indicadores positivos veio do mercado de trabalho americano. Apesar do corte de 539 mil vagas em abril, o número é inferior ao esperado, de 600 mil, e aos 700 mil de março, diz o economista da Um Investimentos Hersz Ferman.

O Tesouro Nacional abriu mão de emitir o título Global 2019 no mercado asiático. Na quinta-feira, o papel foi emitido nos mercados americano e europeu, representando captações de US$750 milhões, com taxas de 5,8% para investidores. A operação seria estendida à Ásia num total de US$37,5 milhões mas as taxas pedidas como remuneração não foram atraentes.

COLABOROU: Martha Beck