Título: Itaipu: negociação acaba em impasse, e nova reunião acontecerá em junho
Autor: Oliveira, Eliane; Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 09/05/2009, Economia, p. 31

Lugo faz palanque na viagem. Brasil pode pedir troca de negociador paraguaio.

BRASÍLIA e BUENOS AIRES. O presidente do Paraguai, Fernando Lugo, usou Brasília como palanque para melhorar sua situação política e, assim, não apresentou nada além dos pontos que já reivindicara para mudar o tratado de Itaipu. Disse que "o Paraguai não renuncia a nenhuma de suas reivindicações" e que gostaria de agregar novos pontos a um futuro acordo. O governo brasileiro já avisou que o Paraguai ficará de mãos abanando se não mudar de atitude. De concreto, houve apenas o agendamento de novo encontro bilateral, entre 10 e 15 de junho, em Assunção.

- Não dá para um ministro dizer que o preço do megawatt é de US$3, quando se sabe que é de US$45. Eles estão prisioneiros do discurso de campanha. Nós entendemos, mas é preciso sair do palanque e começar a governar. Se quiserem ir para a arbitragem, vamos. Mas o Brasil não tem dúvida de que está certo. Vão perder tempo - disse um interlocutor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Um dos alvos dessa ira é o negociador paraguaio Ricardo Canese. Fontes afirmaram que não se descarta nem a hipótese de o Brasil pedir formalmente sua substituição. Canese teria abusado da ironia - chegou a dizer que a oferta brasileira de alongar a dívida do Paraguai era "piada de mau gosto". Canese informou ontem ao GLOBO que, no encontro em Brasília, ficou decidido que o único porta-voz do Paraguai sobre Itaipu será o chanceler Héctor Lacognata. Com isso, acabou confirmando, veladamente, o puxão de orelha brasileiro.

Os paraguaios não abrem mão de uma agenda de seis propostas colocada meses atrás e já rejeitada pelo Brasil. Também não se manifestaram sobre o pacote de R$1,7 bilhão oferecido na véspera.

- Não consegui entender a vinda deles nesses termos - disse ao GLOBO o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.

O ministro não descarta conversar com seu congênere do Paraguai. No Brasil, uma nova oferta está sendo preparada. Fontes que participaram da reunião de Lula com Lugo na quinta-feira, disseram que o presidente paraguaio deverá baixar o tom na próxima rodada de negociações. A expectativa ontem era que, para justificar o fracasso, Lugo alegaria à mídia que não teve suas reivindicações atendidas pelo maior país da região.

- Lugo deve dizer que somos imperialistas - disse uma fonte.

Existe no governo a convicção de que Lugo não deveria ficar mais enfraquecido, mas Lula e equipe dizem que os pedidos feitos, alguns implicando revisão do tratado da década de 1970, são inadmissíveis. O Brasil está decidido, por exemplo, a não aceitar que o Paraguai venda livremente no mercado a energia que não usa, além do aumento da tarifa e de mudanças nas condições de pagamento da dívida.

Aumentar a tarifa de Itaipu significa repassar o reajuste ao consumidor brasileiro e comprar briga no Congresso, que teria de aprovar qualquer alteração no contrato. E ceder ao Paraguai abriria precedentes para países como Bolívia, Equador e Argentina.

- Há outros temas que não estavam previstos. Por que não nos reunimos e fazemos um pacote geral, com obras complementares e agregamos outros temas? - afirmou Lugo.

Lula adotou tom diplomático e disse que a reunião de anteontem foi produtiva, porque os dois lados detectaram pontos em que têm de avançar. Mas salientou que Lugo estava voltando de mãos vazias ao Paraguai porque não aceitou os termos propostos pelo Brasil

- Itaipu é um tema sensível para o Paraguai, é um tema sensível para o Brasil, mas é por isso que existem os governantes, para discutirem também os temas sensíveis.

Lula enumerou algumas concordâncias, como a direção compartilhada de Itaipu.

- É da filosofia do nosso governo garantir que os países que têm fronteira com o Brasil tenham possibilidade de ter o mesmo desenvolvimento. Não queremos ser uma ilha de prosperidade no continente, cercada por países com dificuldades.

(*) Correspondente