Título: Oposição tenta barrar Kirchner
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 11/05/2009, O Mundo, p. 18

Rivais denunciam candidatura de ex-presidente argentino e manobra para eleições legislativas

Setores da oposição argentina apresentarão hoje uma denúncia na Justiça contra a candidatura do ex-presidente Néstor Kirchner, que sábado à noite confirmou sua decisão de disputar uma vaga na Câmara nas eleições legislativas de 28 de junho. O ex-presidente será acusado de utilizar a residência oficial de Olivos como domicílio privado, para justificar uma candidatura pela província de Buenos Aires (Kirchner nasceu e sempre teve seu domicílio na província de Santa Cruz, governada por ele por 11 anos). Segundo confirmaram dirigentes opositores, também serão denunciados governadores e prefeitos que aceitaram, sob forte pressão da Casa Rosada, integrar as listas de candidatos da Frente para a Vitória (sublegenda do Partido Justicialista liderada por Kirchner) na eleição que renovará metade da Câmara e um terço do Senado.

A confirmação da candidatura de Kirchner era esperada há semanas. No sábado, foram registradas todas as listas de candidatos e, além do ex-presidente, o governo apresentou listas que incluem 45 prefeitos da província de Buenos Aires e até mesmo o governador provincial, Daniel Scioli. A oposição denunciou uma manobra do kirchnerismo que, através das chamadas ¿candidaturas testimoniais¿ (supõe-se que os prefeitos e governadores não assumirão os cargos aos quais estão concorrendo no Congresso, e caso isso aconteça, estes continuam nas mesmas posições e os próximos nomes na lista é que assumem), pretende evitar um duro revés no principal distrito eleitoral do país.

¿ As candidaturas testimoniais representam uma fraude aos eleitores ¿ declarou o candidato a deputado pelo Acordo Cívico e Social (aliança entre a Coalizão Cívica e a União Cívica Radical), o advogado Ricardo Gil Lavedra, que hoje entregará uma denúncia nos tribunais de Buenos Aires.

Projeto político em jogo, diz governador

Lavedra questionou especialmente a candidatura do chefe de gabinete, Sergio Massa: ¿ O caso de Massa é gravíssimo, porque para assumir seu cargo atual ele pediu uma licença como prefeito do município de Tigre e agora é candidato a deputado nacional.

O opositor explicou que no caso de Kirchner pedirá que seja investigado o registro de seu domicílio na província de Buenos Aires, já que a residência oficial de Olivos não pode ser usada como domicílio particular.

A inclusão de Scioli na lista de candidatos da Frente para a Vitória na província de Buenos Aires também era esperada pela oposição. O governador (um peronista) é um dos políticos com melhor imagem do país e sua presença na lista kirchnerista era considerada fundamental pelo ex-presidente.

Kirchner e Scioli lideram a lista na província mais importante do país, porque, na visão do ex-presidente, esta era a única maneira de evitar uma derrota que poderia significar o fim de seu projeto de poder. O governador explicou que aceitou a candidatura porque ¿está em jogo um projeto de país¿. O mesmo argumento foi usado pelos prefeitos, que até o último minuto tentaram fugir de uma candidatura que poderia manchar suas trajetórias políticas.

Este é justamente o eixo do discurso do governo na campanha que oficialmente começa hoje. Kirchner chegou a dizer que uma derrota de seus candidatos arrastaria o país para uma crise similar a de 2001, após a renúncia do ex-presidente Fernando De La Rúa.

O casal K está tentando convencer os argentinos de que o país tem apenas duas opções: eles ou o caos.

¿ Se Cristina não obtiver maioria legislativa voltaremos ao país de 2001, voltaremos ao país que explode ¿ declarou o ex-presidente.

Como Cristina na campanha presidencial de 2007, o ex-presidente usa a máquina estatal para fazer campanha.

Perguntado sobre as denúncias opositoras, Kirchner disse é ¿um primeirodamo e as normas argentinas estabelecem mecanismos de segurança para a família do presidente¿.

Para Kirchner, é tudo ou nada. Segundo a imprensa, o ex-presidente não admitiria continuar governando sem maioria em ambas as câmaras.

Aliados chegaram a dizer que ¿se Cristina for derrotada, assume o vice-presidente Julio Cobos¿, um dos principais adversários do casal K, que nesta eleição terá candidatos próprios.