Título: Para PMDB, Planalto fica devendo
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 12/05/2009, O País, p. 3

Cúpula do partido não engole demissões, mas evita reação pública.

BRASÍLIA. Na cúpula do PMDB, as declarações do ministro da Defesa, Nelson Jobim, foram recebidas com reserva e estranheza. A determinação dos caciques do partido foi de não respondê-las agora para evitar um desgaste ainda maior da legenda no episódio da demissão de afilhados políticos da Infraero. Mas o PMDB já mandou recado ao Planalto que esse fato não foi bem absorvido, e que vai entrar para a coluna de débitos do governo com o partido.

O clima entre os peemedebistas é de contrariedade, não só pela perda dos cargos, mas também pela exposição pública e pelo desgaste dos principais nomes do partido, como o líder na Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e até mesmo o líder do governo, senador Romero Jucá (PMDB-RR). Os dois tinham parentes empregados em cargos de confiança da estatal: Jucá, um irmão e uma cunhada;. Henrique Eduardo Alves, a ex-mulher. Ontem, depois da afirmação de Jobim, um influente cacique do PMDB chegou fazer ironias.

- Quem não quer uma coisa séria? Agora, uma pessoa qualificada e reconhecida não pode ser punida por causa de uma indicação política - reagiu esse peemedebista.

A avaliação na cúpula do partido é que Jobim errou na dose ao anunciar as demissões como algo "sério" e moralizador. Isso porque suas palavras colocaram em situação delicada todo o comando partidário. Os próprios caciques do PMDB reconhecem que já perderam a queda de braço, nesse episódio, com a opinião pública. Por isso, avaliam, não adianta mais insistir no tema.

Nomeação de ministro foi opção pessoal do presidente

Mesmo assim, os peemedebistas afirmam estranhar a postura contundente de Jobim nesse episódio, que, para eles, prejudica a imagem do próprio partido. Não engolem o fato de o ministro, que é do PMDB, não ter consultado os líderes do partido, ou mesmo não ter tido o cuidado de avisar com antecedência que as demissões seriam feitas.

Ontem, peemedebistas lembraram que, em 2007, Jobim chegou a ser lançado candidato a presidente do partido pelo grupo do Senado. Mas que, diante de uma possível derrota, retirou a candidatura e se afastou da legenda. Tanto que a sua nomeação para a pasta da Defesa não contou com a indicação política do PMDB. Foi resultado de um convite pessoal do presidente Lula.

De forma reservada, e depois de receber os líderes do partido em seu gabinete, Lula resolveu enfrentar a cúpula do PMDB e deu por encerrado o assunto das demissões de apadrinhados políticos na Infraero. A avaliação no núcleo do governo é que o ministro da Defesa, Nelson Jobim, conseguiu vencer a batalha na opinião pública e, com isso, imobilizou o PMDB, que ficou sem reação para retaliar o governo imediatamente. Pelo menos por enquanto.

Diante dos fatos, o presidente Lula disse que não havia mais nada a fazer neste momento. Mas deixou claro que era preciso curar as feridas dos aliados para evitar reações em votações de interesse do governo no Congresso Nacional.