Título: Se não for sério, não é para mim
Autor: Gois, Chico de
Fonte: O Globo, 12/05/2009, O País, p. 3

Jobim ameaça sair caso pressão do PMDB consiga frear enxugamento da Infraero.

As relações do PMDB com o governo podem azedar ainda mais. Depois de uma audiência ontem com o presidente Lula, o ministro da Defesa, Nelson Jobim, disse que ele avalizou o plano de reestruturação da Infraero, mesmo com as queixas dos peemedebistas. E anunciou que as demissões de apadrinhados políticos em cargos comissionados vão continuar. O ministro fez uma ameaça velada de deixar o cargo, caso haja mudança nesses planos:

- Ou nós temos uma coisa séria ou não temos. E, se não for séria, não é ambiente para mim.

Após o encontro com Lula, Jobim sustentou que as medidas são parte de um novo entendimento para compor o quadro administrativo da estatal. Os desligamentos de apadrinhados políticos, sobretudo do PMDB, partido do ministro, causaram, semana passada, rebelião na bancada.

O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), e o líder da bancada do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN), reuniram-se com Lula semana passada para cobrar sua intervenção a fim de impedir as demissões. Na ocasião, Lula disse que conversaria com Jobim.

Lula aprovou o plano, diz Jobim

Ontem de manhã, o ministro disse que as demissões continuarão, e que Lula aprovou o plano, assumindo o desgaste político. Os desligamentos de apadrinhados têm sido conduzidos pelo brigadeiro Cleonilson Nicácio, presidente da Infraero. O objetivo, afirmou Jobim, é profissionalizar a estatal. O governo tem interesse em abrir o capital da empresa para repassar à iniciativa privada a administração de alguns aeroportos.

- O problema é a profissionalização da Infraero, não é uma questão partidária - afirmou. - É uma questão de termos uma empresa que seja eficiente, competitiva e que possa enfrentar os problemas que advirão, principalmente das concessões que teremos de fazer. Ela tem que ter musculatura para isso e competência.

Jobim disse que vai conversar com parlamentares do PMDB sobre as demissões. Em relação aos próximos desligamentos, ele afirmou que haverá uma comunicação prévia ao demitido e ao político que o apadrinhou:

- Vamos fazer a demissão com uma comunicação prévia para os que indicaram e para os indicados. Não sabemos por quem alguns foram indicados, e aí vem aquela expressão antiga de um parlamentar do Ceará, o jabuti no galho - comentou o ministro.

Desde que as demissões começaram, o PMDB vem dificultando a vida do governo no Congresso. A ameaça mais recente é fazer uma CPI sobre a Petrobras. Um dos alvos é o irmão do ministro da Secretaria de Comunicação Social da Presidência, Franklin Martins. Victor Martins, diretor da Agência Nacional de Petróleo (ANP), é acusado pela Polícia Federal de liderar um esquema de distribuição de royalties entre as prefeituras. O PMDB também se aliou ao DEM, por exemplo, para inserir no texto da medida provisória que autorizou a renegociação de dívidas previdenciárias a ampliação de prazo para pagamento dos débitos, além de alterar o índice de juros - em vez da Selic, a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP), mais branda.