Título: Gripe: OMS diz que não é hora de baixar a guarda
Autor: Berlinck, Deborah; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 12/05/2009, Rio, p. 13

Entidade reage a declaração tranquilizadora de Lula, que afirmou que doença "não é do tamanho que parecia que ia ser"

GENEBRA, BRASÍLIA e SÃO PAULO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a demonstrar otimismo e a minimizar a extensão da gripe suína no Brasil. Ontem, durante seu programa de rádio "Café com o presidente", ele disse que a doença "não é do tamanho que parecia que ia ser". Até agora, há oito casos da doença confirmados no Brasil, além de 22 suspeitos em oito estados. Diante desse quadro, Lula procurou tranquilizar a população e disse que a situação não é para pânico. O porta-voz da Organização Mundial da Saúde (OMS), Gregory Hartl, reagiu à declaração e disse que "não é hora de baixar a guarda."

- Eu penso que ela existe, é grave, mas aqui no Brasil nós estamos cuidando para evitar que se alastre - disse Lula.

Apesar do otimismo, ele anunciou que o Brasil vai intensificar a vigilância e o tratamento da gripe suína, que até ontem havia matado 61 pessoas e infectado cerca 4.800 em 30 países - Japão, Noruega e a região continental da China foram os últimos locais para onde a doença se espalhou.

- Os países definitivamente têm que estar preparados e reforçar a vigilância, especialmente com a chegada em breve do inverno no Hemisfério Sul, onde esperamos um aumento dos casos. Certamente nós (OMS) não vamos baixar a guarda. Não agora, nem nos próximos meses - disse Hartl.

Brasil pede remédios para tropas no Haiti

O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, pediu à OMS o envio de 30 mil tratamentos de Tamiflu - antiviral receitado para tratar a gripe - para o Haiti. Os remédios serão usados, caso necessário, pelas tropas brasileiras das forças de paz da ONU naquele país. O Haiti ainda não confirmou nenhum caso da gripe. O governo também negocia a compra de 800 mil novos tratamentos do antiviral para os pacientes do Brasil.

Em São Paulo, subiu para dez o número de casos suspeitos da doença. A Secretaria de Saúde informou que já não há mais perigo de os dois pacientes que tiveram a doença, um rapaz de 24 anos e um homem de 48, contaminarem outras pessoas. Os dois pegaram a gripe no exterior. O rapaz esteve na Cidade do México entre os dias 17 e 22 de abril. Ele percebeu que estava gripado logo que chegou ao Brasil e ficou dez dias internado no Instituto de Infectologia Emílio Ribas. O homem de 48 anos nem chegou a ficar internado. Ele esteve em Miami e Orlando entre 19 e 28 de abril e apresentou os primeiros sintomas no dia 29. Encaminhado ao Instituto Emílio Ribas, foi liberado, com o compromisso de ficar isolado em sua casa.

Cientistas: vírus mais brando que o da gripe aviária

O presidente Lula não é o único a amenizar o impacto da nova gripe. Alguns cientistas nos EUA e na Europa têm dito que análises preliminares indicam que o vírus da doença é bem mais brando do que o da gripe aviária - ou seja, é menos mortal. Mas a OMS diz que ninguém pode saber, no estágio atual, como o vírus vai evoluir e que seria um erro relaxar agora:

- Não é possível prever o futuro. A situação pode virar e tomar outras formas - insistiu Keiji Fukuda, diretor-geral assistente da OMS.

Fukuda lembrou que, no início da gripe espanhola, que matou cerca de 50 milhões de pessoas entre 1918 e 1920, o vírus também era brando, mas se tornou mortal. Ele diz que, embora no caso da atual gripe a maioria das infecções seja branda, há uma situação nova: entre os mortos há jovens saudáveis, que normalmente não seriam vitimados pela gripe.

Ele defendeu o fato de a OMS não aumentar o alerta para o nível 6, o mais alto, que significaria pandemia, com grande transmissão em pelo menos duas regiões do planeta. Segundo Fukuda, os casos de transmissão do vírus de pessoa para pessoa fora da América do Norte são poucos, sem caracterizar uma epidemia.

Equipes de especialistas da OMS no México averiguaram que o vírus H1N1 tem matado 0,4% das pessoas infectadas. Dessa forma, seria menos mortal do que o da gripe espanhola, mas teria letalidade similar ao da epidemia de 1957, que matou centenas de milhares.

Eles disseram que o vírus é transmitido de pessoa para pessoa entre 14 e 73 vezes. Ou seja, uma pessoa passa para outra, que transmite o vírus para outra sucessivamente até 73 vezes. Isso indicaria que a gripe suína seria muito mais transmissível do que a comum.

Ontem, as escolas de 27 dos 32 estados do México - que haviam sido fechadas para evitar a disseminação da doença - foram reabertas. Em Cuba, foi confirmado o primeiro caso da gripe suína: o infectado é um estudante mexicano.