Título: Retomada econômica ainda distante
Autor: Frish, Felipe; Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Globo, 12/05/2009, Economia, p. 21

Em SP, três ganhadores do Nobel dizem que processo da crise está no começo

SÃO PAULO. Os sinais positivos que têm surgido em algumas economias nas últimas semanas, como a desaceleração no aumento do desemprego nos Estados Unidos, estão longe de significar que a atual crise financeira esteja próxima do seu fim. Três ganhadores do Prêmio Nobel de Economia, reunidos ontem em seminário realizado em São Paulo pela revista "Exame", concordaram que ainda há um longo caminho para a retomada das economias mais afetadas. Mesmo reconhecendo que o Brasil desfruta de condição privilegiada, com perspectivas de retomada mais rápida do crescimento, nenhum deles previu vida fácil para o país enquanto durar a crise.

Para Joseph Stiglitz, ganhador do Nobel em 2001 e que leciona atualmente na Universidade de Columbia, estamos ainda somente "no fim do começo" da crise global.

- A tempestade, de certa forma, está apenas começando - disse Stiglitz. - Provavelmente nós teremos uma década perdida. Mesmo depois de sair da crise, entraremos numa era de desconforto, com desemprego e baixo e lento crescimento.

Robert Mundell, colega de Stiglitz em Columbia e ganhador do Nobel de 1999, afirmou que os Estados Unidos estão agora chegando ao "fundo do poço", o que sequer aconteceu com a Europa ainda.

- Ainda estamos chegando a dois quintos desse processo de crise - disse.

Para Edward Prescott, da Universidade do Arizona e Nobel de 2004, como ocorreu com o Japão nos anos 1990, a atual crise consumirá uma década de crescimento dos Estados Unidos. Apesar disso, citando as quedas recentes no PIB americano, Prescott não crê numa depressão como a da década de 1930.

- Será que vamos ter uma outra depressão? Não. Minha resposta é não - afirmou Prescott, acrescentando adiante. - Em algum momento os Estados Unidos vão retomar o caminho do crescimento.

Brasil está bem, concordam economistas

Os economistas não economizaram elogios à bem-sucedida política macroeconômica em vigor no Brasil, particularmente as elevadas reservas internacionais e disciplina fiscal.

- Os emergentes sofrerão menos que EUA e países da Europa, e o Brasil tem excelente posição de reservas - disse Mundell.

Stiglitz destacou a solidez do sistema bancário brasileiro. E disse os juros muito altos no país, que antes via como um problema, dão um importante espaço para serem usados como instrumento para estimular a economia.

- O Brasil está numa boa posição - disse Stiglitz.

Segundo Prescott, o Brasil pode entrar para o clube das chamadas potências industrializadas até 2030, cinco anos depois da China:

- O país pode ter uma rápida recuperação, alcançando os líderes mais industrializados num futuro próximo.

Com a ressalva de que não falaria na condição de candidato à Presidência da República, o governador de São Paulo, José Serra, que também participou do evento, disse que o clima de confiança no país pode provocar a volta da política cambial pré-crise em que, segundo ele, a valorização do real frente ao dólar acabou incentivando grandes empresas brasileiras a especular no mercado de câmbio.

- (Preocupa) voltar ao ciclo anterior de valorização crescente da moeda, porque a diferença da remuneração no Brasil em relação ao resto do mundo para o dinheiro que vem é abismal, imensa. E isso tende a se reinstaurar, diante do clima de maior confiança. Porque, efetivamente, a economia brasileira tem boas condições comparada às outras.