Título: E a prefeita também se lixa
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 14/05/2009, O País, p. 3

Mulher de Moraes lança edital para compra de carro de luxo por R$81 mil.

SANTA CRUZ DO SUL (RS). Enquanto Sérgio Moraes (PTB-RS) perdia o cargo de relator do Conselho de Ética, a mulher dele e prefeita de Santa Cruz do Sul (RS), Neiva Terezinha Marques, conhecida como Kelly Moraes, preparava-se ontem para ter mais conforto no cargo. Alheia aos reflexos da crise financeira nos cofres municipais, Kelly pretende trocar o carro oficial "antigo", de 2006. Lançou edital para compra de novo veículo exigindo características luxuosas para os padrões da cidade de pouco mais de 100 mil habitantes: bancos de couro ajustáveis, sensor de estacionamento, piloto automático, CD player para seis discos, computador de bordo, transmissão automática de velocidade, retrovisores elétricos, rodas de liga leve, porta-malas com comando interno, além de ar-condicionado e vidros elétricos.

As especificações e o orçamento de referência para a compra (R$81.385) só seriam atendidas no mercado brasileiro por dois modelos. A prefeita não quis dar entrevista sobre a licitação.

O secretário de Finanças, Elstor Desbessel, disse que a prefeitura seguia o padrão dos antecessores. O último veículo adquirido para uso do prefeito, um Peugeot 307, tem características inferiores ao escolhido por Kelly.

- Colocamos no edital as mesmas características da licitação de 2005. A prefeitura tem que se adequar aos novos padrões. Começou com um Opalão, passou pelo Santana. Ano a ano a coisa tem que evoluir.

A sede da prefeitura parece uma segunda casa da família Moraes. O GLOBO foi atendido pela chefe de gabinete, Miriam Moraes, irmã do deputado. A filha do parlamentar também transitava por ali, assim como o genro do deputado, que atua numa assessoria da administração. Kelly não quis falar sobre eventuais casos de nepotismo. Nem sobre o fato de doadores de campanha ocuparem cargos na prefeitura. Segundo o Tribunal Regional Eleitoral, alguns dos secretários fizeram doações à sua campanha após a eleição.

Outra polêmica envolve uma construtora que há anos presta serviço à administração. Embora mova ação contra o município, pedindo mais de R$400 mil como diferença em relação a serviço de pavimentação que teria sido feito a mais em 2002 (gestão de Moraes), a construtora figura como uma das principais doadoras da campanha de Kelly - R$130 mil. Os responsáveis pela empresa não foram localizados.