Título: Moraes cai, e continua se lixando
Autor: Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 14/05/2009, O País, p. 3

Presidente do Conselho de Ética troca relator do caso do castelo, que recorrerá ao STF

Ele bem que tentou resistir. Pediu desculpas, atacou a imprensa, avisou que não se daria por vencido e repetiu que não retiraria a declaração de que estava "se lixando para a opinião pública". Mas, numa sessão tensa e depois de mais de três horas de manifestações, Sérgio Moraes (PTB-RS) e a comissão criada para cuidar do processo contra Edmar Moreira (sem partido-MG) no Conselho de Ética da Câmara foram destituídos pelo presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA). Após ouvir as manifestações a favor e contra a troca do relator, Araújo reafirmou o entendimento de que Moraes prejulgara o caso de Edmar e fez novo apelo para que o colega renunciasse. Diante da negativa, anunciou a nomeação de Nazareno Fonteles (PT-PI) para a função.

Moraes reagiu e avisou que recorrerá ao Supremo Tribunal Federal.

- O presidente não deixou que ninguém votasse. Fui destituído de forma arbitrária, vou recorrer. Vocês devem estar felizes, né? Qual é o próximo passo? Vão derrubar outro? - protestou Moraes, falando a jornalistas.

O líder do PTB, Jovair Arantes (GO), que foi protestar contra a substituição de Moraes, disse que o partido recorrerá à Comissão de Constituição e Justiça da Casa e ao STF. Jovair classificou o ato de autoritário:

- Usar instrumento de força para afastar um deputado é coisa de ditadura. Hoje, é um do PTB. Amanhã, DEM, poderá ser um de vocês!

Moraes não apresentou as gravações que dissera ter para provar que a imprensa distorce o que ele diz. Apenas voltou a criticá-la. O presidente do Conselho, porém, distribuiu farto material do que foi publicado sobre o episódio.

Moraes discursou sentado, e avisou que não leria nada para não dar a impressão de estar inseguro. Negou a antecipação do voto e assumiu ter dito a frase "estou me lixando para a opinião pública".

- Muita gente tem medo da imprensa, e eu não tenho. Pinçaram uma frase: deputado diz que se lixa. E virei manchete. Prefiro ficar com a minha verdade, a minha honra, e estou me lixando para o que vão escrever e formar na opinião pública - repetiu.

Conselheiros apoiam Moraes

O gaúcho pediu desculpas pela frase, mas manteve a afirmação:

- A frase não foi boa, (foi) acalorada e infeliz, mas não retiro ela! Peço desculpas. Não disse para os deputados ou para a população. Mas volto a falar se for necessário.

Muitos aproveitaram para criticar a imprensa. Araújo teve o apoio de apenas quatro dos 15 conselheiros. Os demais integrantes ou apelaram para um entendimento posterior, sem vencedores e vencidos, ou pela manutenção de Moraes. Abelardo Camarinha (PSB-SP) disse que louva o fato de a imprensa apurar o uso irregular da cota de passagens no Congresso, mas cobrou que se investiguem os outros poderes também. E, defendendo Moraes, disse que a opinião pública elegeu Hitler, Mussolini e Fernando Collor e salvou Barrabás.

- Esta Casa está de joelhos para a imprensa para prejudicar um colega nosso. O Conselho de Ética é para acabar com a vida da pessoa; muitas morrem porque o ser humano não aguenta certos abalos - queixou-se Ernandes Amorim (PTB-RO).

Moraes aproveitou a deixa:

- Não vou recuar, não posso. Seria a grande festa desta noite. Já estão fazendo manchetes de que eu estaria fora, e nós todos de joelhos na frente da imprensa. Vossa Excelência, de cabelos brancos, na frente da imprensa. Apelo para que volte atrás.

- O único lugar em que me ajoelho é na igreja do Senhor do Bonfim, onde vou rezar - respondeu Araújo.