Título: G-20 abrevia cúpula de Doha
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 31/03/2009, Mundo, p. 23

Líderes das duas regiões se reúnem pela segunda vez, mas crise econômica atropela a agenda de Lula e da argentina Cristina Kirchner, que partem hoje mesmo para participar do encontro mundial em Londres

Deve durar apenas três horas a segunda cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa), que se reúne hoje em Doha, no Catar. Uma fonte diplomática da Líbia contou ao Correio que as delegações árabes tiveram de se adaptar às agendas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da colega argentina, Cristina Kirchner. Ambos viajam ainda hoje para Londres para participar do encontro do G-20, na quinta-feira ¿ o brasileiro faz escala em Paris.

O mesmo diplomata confirmou que o presidente da Líbia, Muamar Kadafi, vai participar do encontro de hoje com os líderes sul-americanos, apesar do incidente de ontem na cúpula da Liga Árabe. Kadafi acusou o rei saudita, Abdullah, de ser um ¿agente britânico¿ e ¿protegido dos Estados Unidos¿, mas acabou pedindo uma reconciliação. ¿Por meu respeito à umma (a nação árabe), considero que o problema pessoal com você terminou¿, disse o líder líbio endereçando-se ao monarca. ¿Estou disposto a visitá-lo e espero sua visita¿, completou. Kadafi e o rei saudita já se haviam desentendido na cúpula árabe de 2003, no balneário egípcio de Sharm El-Sheikh, antes da invasão americana ao Iraque. Na ocasião, Abdullah foi quem acusou o líbio de ser um agente de ocupação estrangeira.

A cúpula entre árabes e sul-americanos deve adotar uma declaração final que incluirá o apoio à cooperação econômica e cultural, com iniciativas como a criação de uma biblioteca de obras árabes traduzidas ao espanhol e obras sul-americanas traduzidas ao árabe e o estabelecimento de um centro de estudos sul-americanos no Marrocos. O Itamaraty confirmou que será dada continuidade a essas negociações, mas que nenhum acordo deve ser assinado agora. O mundo árabe e a América do Sul representam 10,5 % da população mundial, e o Brasil foi um dos países que mais se beneficiaram da intensificação do comércio entre as duas regiões a partir da primeira cúpula da Aspa, realizada em 2005 em Brasília. O volume das trocas saltou de US$ 8,2 bilhões em 2004 para US$ 20,2 bilhões no ano passado.

O colombiano Álvaro Uribe, o uruguaio Tabaré Vázquez e o equatoriano Rafael Correa não foram a Doha. A reunião contará com a presença de nove dos 12 chefes de Estado sul-americanos, entre eles o venezuelano Hugo Chávez (que segue viagem ao Irã e ao Japão). O presidente do Sudão, Omar Al-Bashir, que foi condenado pelo Tribunal Penal Internacional (TPI), também vai participar da Aspa, fortalecido pela forte declaração de apoio incluída na declaração final da cúpula árabe. Os dirigentes reunidos no Catar reconheceram que existe ¿um grave conflito¿ a ser resolvido no Sudão, mas questionaram a imparcialidade do TPI, por não julgar países como os Estados Unidos e Israel ¿ nenhum dos dois firmou o tratado que criou a corte.

Segundo o diplomata líbio, a cúpula América do Sul-África que será realizada em setembro, em Caracas (Venezuela), promete ser mais interessante para os sul-americanos, pois os líderes africanos estarão mais unidos em suas decisões. Ele explica que na reunião de hoje os árabes ainda se encontrarão divididos quanto à questão Israel-Palestina, e que o encontro de ontem da Liga Árabe era uma tentativa de acabar com os atritos criados depois da campanha militar israelense na Faixa de Gaza. A próxima cúpula árabe será realizada na Líbia em 2010.

-------------------------------------------------------------------------------- Considero que o problema pessoal com você terminou. Estou disposto a visitá-lo e espero sua visita

Muamar Kadafi, presidente da Líbia, dirigindo-se ao rei Abdullah, da Arábia Saudita

-------------------------------------------------------------------------------- Posse para Netanyahu

O primeiro-ministro designado de Israel, Benjamin Netanyahu, apresenta ao Parlamento seu gabinete, com nada menos que 30 ministros, na expectativa de que seja ratificado e empossado hoje mesmo. Netanyahu teve de fazer um grande esforço para acomodar em uma coalizão seu próprio partido, o direitista Likud (27 deputados), o Israel Beitenu (extrema direita nacionalista, 15 deputados), o Partido Trabalhista (centro-esquerda, 13 deputados), o Shass (religioso utra-ortodoxo, 11 deputados) e o Lar Judeu (colonos, três deputados).

Segundo o jornal Yediot Ahronot, o Israel Beitenu ficará com 12 ministérios, entre eles o de Relações Exteriores. O líder trabalhista, Ehud Barak, continuará como ministro da Defesa. No entanto, a nomeação de tantos políticos de partidos aliados está desagradando a membros do Likud e do centrista Kadima (oposição). Parlamentares dos dois partidos pediram que o gabinete seja limitado a 18 ministros, sob o argumento da crise financeira.

Netanyahu reiterou a disposição a negociar com o presidente da Autoridade Palestina, Mahmud Abbas, e alcançar uma ¿paz econômica¿, mas se recusou a aceitar a criação de um Estado palestino e a congelar a colonização judaica na Cisjordânia. ¿Nós queremos uma paz total e real, com o objetivo de alcançar uma reconciliação entre os povos árabe e judeu¿, declarou Netanyahu.