Título: Decisão levou em conta custo político, que se sobrepôs a propostas técnicas
Autor: Camarotti, Gerson; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 14/05/2009, Economia, p. 18

Avaliação é que mudança na fórmula criaria um "ruído desnecessário

BRASÍLIA. A equipe econômica tentou até o último minuto convencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e os integrantes do Conselho Político, reunidos ontem, de que a melhor opção para a poupança seria reduzir ou acabar com a Taxa Referencial (TR), mexendo na remuneração fixa, mas não houve acordo. Prevaleceu a avaliação de que alterar a TR seria mudar o rendimento do pequeno poupador, e isso teria um custo político alto, às vésperas de um ano eleitoral. Ainda assim, a oposição criticou.

Lula demorou para bater o martelo na reunião, segundo os participantes. Mas, no fim, cedeu ao argumento político.

¿ Não é um assunto para o último ano de mandato. É um assunto para o primeiro ano de mandato. Essa é uma solução que resolve o problema agora ¿ afirmou Lula a interlocutores.

Mesmo que pequena, argumentaram líderes de partidos aliados, a mudança na fórmula geraria ruído desnecessário.

¿ Uma mudança na fórmula da TR criaria um ruído desnecessário, pois iria gerar desconfiança nos poupadores. Além disso, não traria benefício relevante.

Ou seja, a proposta não teria grande relevância e, socialmente, poderia gerar desconfiança.

A solução encontrada foi a melhor, pois evita especulação ¿ disse o líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP).

Estavam em estudo várias alternativas.

Uma delas era alterar o cálculo da TR para que ela se mantivesse zerada. Outra seria trocar a TR por parte da taxa básica de juros. Para convencer o Planalto, a equipe econômica chegou a propor que houvesse dois tratamentos: seriam mantidas as regras para depósitos antigos, e a mudança só valeria para os novos. Mas não houve aprovação presidencial.

¿ O presidente Lula é que tem a última palavra. Ele aceitou a sugestão que a equipe técnica fez a ele e a todo o colégio de líderes (da base) lá presentes. Houve consenso de que seria a melhor proposta ¿ disse o ministro da Fazenda, Guido Mantega.

Os partidos de oposição tiraram posição conjunta criticando a mudança, por ter mexido em algo sagrado. PSDB, DEM e PPS afirmaram que o governo ¿quebrou a confiança que o Brasil custou a resgatar na caderneta¿, em referência ao confisco de Collor. O líder do governo na Câmara, deputado Henrique Fontana (PT-RS), reagiu: ¿ Isso é terrorismo.

Em nota, a oposição afirma que ¿(o governo) optou por prejudicar o pobre, o aposentado, o trabalhador, criando um imposto para não perder arrecadação¿. A nota ressalta que a poupança é o refúgio da economia popular. ¿O governo sabe disso, mas, estranhamente, anunciou desoneração temporária nos fundos de aplicação e tributação permanente na poupança, que guarda o fruto do trabalho do povo¿.

¿ O governo quebrou a confiança na caderneta. As medidas não passam no Senado ¿ disse o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE).

O presidente nacional do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), alertou que, ao anunciar tributação acima de R$ 50 mil, o governo sinaliza que no futuro poderá taxar valores menores: ¿ Não vamos aceitar taxação na poupança.

¿ A poupança não é mais o sagrado ¿ disse o deputado Raul Jungmann (PPS-PE).