Título: Acordo adia CPI da Petrobras e enfurece tucanos
Autor: Vasconcelos, Adriana
Fonte: O Globo, 15/05/2009, Economia, p. 23

PSDB fica fora de reunião de líderes que decidiu suspender leitura de requerimento até depoimento de Gabrielli

BRASÍLIA. Sem a presença do PSDB ¿ já que o líder do partido no Senado, Arthur Virgilio (AM), presidia uma sessão em homenagem à Universidade Federal do Amazonas ¿, os líderes partidários fecharam ontem um acordo para suspender a leitura do requerimento de criação da CPI da Petrobras, pelo menos até que o presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, compareça a uma audiência pública na Casa para esclarecer dúvidas. Mas a estratégia comandada pelo governo, com o apoio do DEM, abriu uma crise na oposição, já que os tucanos se rebelaram contra a decisão do colégio de líderes e cobraram, no fim da tarde, a instalação da CPI.

O líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), chegou a promover uma reunião no início da tarde entre Gabrielli e a cúpula tucana. Mercadante reiterou os argumentos que havia levado à bancada do PSDB na véspera, alegando que uma investigação sobre a Petrobras ¿ que usou um artifício fiscal para pagar R$ 4,3 bilhões a menos de impostos ¿ poderia comprometer o desempenho da segunda maior empresa de petróleo do mundo, com faturamento de R$ 240 bilhões, 55 mil contratos e 850 mil postos de trabalho diretos.

Mas, depois de mais uma hora de conversa com os tucanos, o presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), Virgilio e o senador Tasso Jereissati (CE) seguiram para o plenário dispostos a cobrar a leitura do requerimento de criação da CPI.

¿ Autorizamos o senador Álvaro Dias a coletar assinaturas para a criação da CPI da Petrobras.

Precisávamos de 27 assinaturas, conseguimos 32. Portanto, não há outra alternativa a não ser ler esse requerimento ¿ solicitou Virgilio.

PSDB tentará ler pedido hoje, com ausência de Sarney O s e n a d o r M ã o S a n t a (PMDB-PI), que presidia a sessão, foi substituído pelo primeiro secretário da Mesa, senador Heráclito Fortes (DEMPI), que contou do acordo a Virgilio. Diante da contestação dos tucanos, Heráclito disse que o líder do DEM, José Agripino (RN), teria informado que estava representando o PSDB.

¿ Ninguém tinha procuração para falar em nome do PSDB ¿ reagiu Tasso.

¿ O senador Agripino sempre foi um aliado nosso na Casa, mas não fala por nós ¿ emendou Sérgio Guerra.

Petistas presentes saíram em defesa de Heráclito, que, pressionado pelos tucanos, chegou a propor a convocação de uma reunião de líderes na segunda-feira. Ainda brincou: ¿ Veja só a minha situação, sendo elogiado pelo PT! Os tucanos pretendiam prosseguir no embate, quando a senadora Serys Slhessarenko (PTMS), segunda vice-presidente do Senado, chegou em plenário para substituir Heráclito e encerrou a sessão. Indignados, Virgilio e Tasso subiram à Mesa ¿ da qual não fazem parte ¿ e tentaram reabrir a sessão sob os olhares perplexos de funcionários e jornalistas. Isso porque essa prerrogativa não existe.

Tasso acabou batendo boca com a secretária-geral da Mesa, Cláudia Lyra, que teria referendado a decisão da senadora petista com o argumento de que não havia mais qualquer orador inscrito. Assustada, Serys deixou o plenário.

¿ Isso é uma vergonha! ¿ protestou Tasso, de dedo em riste na direção de Cláudia.

Heráclito, então, mandou desligar os microfones.

¿ Você não é mais senador que ninguém ¿ retrucou Tasso.

Heráclito disse não concordar com o que Serys fizera, mas que ela tinha precedência para assumir a sessão. E tentou acalmar os ânimos: ¿ Continuar desse jeito será péssimo para nossa biografia! Virgilio, no final, tentou negar o racha com o DEM, mas chamou o episódio de ¿momento infeliz¿: ¿ É um estupro o que cometeram conosco e não vamos desistir de instalar essa CPI, que será a favor da Petrobras. O que não podemos é compactuar com corrupção na empresa.

Mais cedo, logo após a reunião de líderes, o presidente d o S e n a d o , J o s é S a r n e y (PMDB-AP), já sinalizara que o adiamento da leitura não significaria que a CPI não seria criada. Segundo Sarney, tudo dependerá do desempenho de Gabrielli na audiência. Os tucanos vão insistir na leitura do requerimento hoje. Para isso, convocaram o senador tucano Marconi Perillo (GO), primeiro vice-presidente do Senado. A estratégia é, na ausência de Sarney, Perillo assumir a sessão e garantir a leitura.