Título: Amorim: apoio a candidato egípcio é coerente
Autor: Berlinck, Deborah
Fonte: O Globo, 18/05/2009, O País, p. 5

Ministro diz que, apesar de brasileiros disputarem indicação à Unesco, governo federal fez a melhor opção

RIAD, Arábia Saudita. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse ontem que o governo foi coerente ao defender a candidatura do egípcio Farouk Hosny para diretor-geral da Unesco, órgão da ONU para educação, ciência e cultura, deixando de apoiar os brasileiros Márcio Barbosa, diretor-adjunto da organização, e o senador Cristovam Buarque (PDT-DF).

¿ Gente, temos que ter coerência na nossa política externa.

Pode não agradar a certas pessoas.

Mas vamos continuar agindo assim, com coerência ¿ disse o ministro. ¿ É uma decisão política, de Estado, em função de uma política de aproximação com o mundo árabe. O grupo árabe nunca teve (candidato), diferentemente do grupo das Américas, do grupo da Europa, até do grupo da África.

Coerência, para Amorim, é o interesse geopolítico do Brasil.

Barbosa disse que a candidatura egípcia era uma ¿piada¿.

¿ São dois candidatos do Brasil, um se calou ¿ disse Amorim, referindo-se a Cristovam.

Amorim disse que o Brasil, ao apoiar o egípcio, não fez cálculos sobre se isso aumentaria as chances de a ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, obter uma vaga no órgão de solução de controvérsias da Organização Mundial de Comércio.

Muito menos, de que aumentariam as chances do Rio para sediar as Olimpíadas de 2016.

¿ Imagina se candidatura do Márcio Barbosa vai ameaçar Olimpíada! O que eu disse foi outra coisa: disse que, em matéria de candidaturas, estamos concentrados nas Olimpíadas do Rio, e em Ellen Gracie. Espero que ganhe. Agora, dizer: perdeu e não ganhou outra¿ Isso são coisas da vida, gente.

Lula encerrou ontem sua viagem à Arábia Saudita esperando, no futuro, um apoio do país à candidatura do Brasil a uma vaga permanente no Conselho de Segurança da ONU. Havia a expectativa de que o tema fosse abordado nas conversas de Lula com o rei Abdullah. Mas, segundo Amorim, isso não ocorreu.

Também nada se falou sobre direitos humanos na Arábia Saudita, onde pessoas são decapitadas em praça pública e mulheres são consideradas inferiores ao homem. Lula disse que o foro adequado para isso é a ONU.

¿ Não sou o governante do mundo, sou apenas o presidente do Brasil. E vim à Arábia Saudita com interesse bem definido, de estabelecer uma relação mais forte entre a Arábia Saudita e o Brasil. Saio daqui satisfeito.