Título: O aquecimento de Aécio no Rio
Autor: Autran, Paulo
Fonte: O Globo, 16/05/2009, O País, p. 3

Tucano se apresenta como candidato e prega conciliação entre PT e PSDB por agenda nacional

No Rio, e no mesmo dia em que PSDB e PT trocavam acusações em Brasília por causa da CPI da Petrobras, o governador de Minas, o tucano Aécio Neves, apresentou-se ontem como o candidato da conciliação à Presidência da República. Em almoço para 400 convidados na Associação Comercial, foi recebido ao som de ¿Oh, Minas Gerais¿ e saudado pelo governador Sérgio Cabral e pelo prefeito Eduardo Paes, ambos do PMDB e aliados do governo Lula, como o responsável pelo modelo administrativo seguido por eles.

Aécio falou por 30 minutos, dez deles de improviso, e defendeu uma campanha ¿sem radicalismos¿ em 2010, além de compromisso entre PT e PSDB em torno de uma agenda nacional. Elogiou a gestão do governador de São Paulo, José Serra ¿ com quem disputa a indicação do PSDB ¿, no Ministério da Saúde no governo Fernando Henrique Cardoso. E reconheceu avanços, principalmente sociais, no governo Lula, sem deixar de culpar o petista pela lentidão nas reformas.

¿ Pouco importam a autoria e a paternidade dos programas públicos, que preocupam a tantos.

O importante é que façam bem ao Brasil. O fundamental é preservar as conquistas de até aqui, corrigir os equívocos e avançar ainda mais ¿ discursou Aécio, sempre lembrando que o caminho dos programas sociais de Lula foram abertos por Fernando Henrique, que ¿fundou extensa rede de proteção social no país¿: ¿ Quero fazer uma reflexão que talvez muitos correligionários não gostem, assim como meus adversários políticos. Acredito que, daqui a alguns anos, distantes das paixões políticas, dos embates eleitorais e compromissos partidários, os cientistas políticos deverão analisar este longo período de governo, que se inicia com Itamar Franco, com a elaboração do Plano Real, passa pelos oito anos do governo Fernando Henrique e chega aos oito do presidente Lula, como um só período de continuidade da vida nacional.

O governador fez um balanço das conquistas de seu governo em Minas e concluiu citando Guimarães Rosa: ¿O importante não é a partida ou a chegada, mas a caminhada¿. Foi aplaudido de pé por uma plateia que reuniu a ministra Ellen Gracie, do Supremo Tribunal Federal, o cartunista Ziraldo e o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, além de dezenas de empresários.

¿O que temos de fazer é dar um passo além¿

Em entrevista após a cerimônia, Aécio voltou a afirmar que os programas sociais, como o Bolsa Família, avançam ¿de forma extremamente sólida¿ e que o ¿arcabouço econômico é responsavelmente mantido¿ por Lula. Mas disse que faltou vontade política para fazer reformas importantes, como a tributária: ¿ A grande questão agora não é reeditarmos este radicalismo, mas encontrarmos uma convergência em torno da próxima agenda. Porque, se o governo do presidente Lula trouxe avanços, e reconheço isso publicamente, deixou também de fazer algumas reformas que poderiam ser feitas num momento de expansão da economia, de estabilidade econômica e de alta popularidade do presidente. Este tripé poderia ter permitido ao governo avançar em reformas que não avançou.

Então o que tenho defendido é que o PSDB percorra o país discutindo esta nova agenda.

Perguntado sobre o Bolsa Família, afirmou que o programa será mantido, pois já se incorporou à realidade econômica nacional e é um instrumento de distribuição de renda importante: ¿ O que temos que fazer é dar um passo além: qualificar estas pessoas para que elas possam se inserir no mercado de trabalho. Ficarei extremamente feliz se, em vez de comemorar que mais um ou dois milhões de pessoas foram incorporadas ao Bolsa Família, (comemorasse) que esta quantidade de pessoas saiu do programa porque encontrou emprego e se qualificou.

O Bolsa Família não pode ser um fim. Ele é necessário e será mantido pelo governo do PSDB, mas daremos este passo adiante. Não quero que uma criança que nasça hoje seja, daqui a 20 anos, mantida pelo Bolsa Família.

Para ele, até o fim do ano o PSDB tem que viajar pelo país, mobilizando suas bases, para construir um novo projeto para o Brasil, que ele chamou de ¿de pós-Lula¿.

¿ Temos é que fazer nosso dever de casa, que é discutir propostas. O PSDB não pode achar que, dormindo em berço esplêndido, vai acordar em 2010 com o candidato eleito. O PSDB tem que construir um discurso, eleger quatro ou cinco bandeiras que o diferenciem do governo que está aí, e então ter um candidato. Porque este candidato vai nascer com muito mais densidade.