Título: Tenho medo de induzir a erro o presidente
Autor: Lima, Maria; Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 17/05/2009, O País, p. 8

Segredo de Mozart é tentar sempre se antecipar aos fatos

BRASÍLIA. Mineiro de Corinto, de 58 anos, Mozart Viana chegou a Brasília quase adolescente, em busca de oportunidade de trabalho. Alcançou o topo da carreira no Legislativo sem jeitinho e sem padrinho, cumprindo as exigências do serviço público. Entrou para a Câmara por concurso, em 1975, para o cargo de datilógrafo. Passou ao quadro permanente fazendo outro concurso, para assistente legislativo. O último cargo que assumiu foi de consultor. Leitor assíduo de jornais e revistas, Mozart, segundo colegas, tem um jornalista dentro dele. E a preocupação de se manter bem informado já o ajudou muito.

Certa vez, num fim de semana, leu uma entrevista na revista "Playboy" em que o deputado José Genoino (PT-SP) abordava uma questão legislativa polêmica. Segunda-feira, chegou cedo à Câmara e mandou preparar um dossiê completo sobre o caso para entregar ao presidente da Casa. Quando Genoino subiu à tribuna e abordou o assunto, a resposta já estava nas mãos do presidente. Com a leitura farta do noticiário, tenta se antecipar aos fatos e às demandas do dia seguinte. Prepara as votações na véspera, no gabinete ou em casa. Nunca deixa para o mesmo dia.

"Temos um mês para ver se nos suportamos"

Quem promoveu Mozart a secretário-geral foi o ex-presidente Ibsen Pinheiro (PMDB-RS). Impressionado com o trabalho dele na Constituinte, Ibsen fez o convite sob uma condição:

- Temos um mês para ver se nos suportamos.

Antes do prazo, confirmou-o no cargo. Com tanto trabalho e tantos abacaxis para descascar, Mozart tem pouco tempo para a família e as cobranças são crescentes. Ele tem quatro filhos, mas o xodó é a caçula Danielle, de 16 anos. Os outros, homens, têm 21, 22 e 28 anos. Mesmo durante as sessões tumultuadas da Câmara, Mozart acha um jeito de ler as mensagens de Danielle. "Te amo, pai", escreveu ela, no dia 16.

O secretário-geral da Mesa acha seu trabalho interessante, mas reconhece que, às vezes, tem dificuldade para administrar tantas demandas. Além de atender o presidente da Casa, recebe pedidos das comissões, das secretarias e dos 513 deputados. Na última quarta-feira, reuniu seis auxiliares para dar consultoria ao deputado Ilderlei Cordeiro (PPS-AC), que queria saber se um projeto de sua autoria poderia furar a pauta de votações. Mozart não esconde dos amigos o medo de errar:

- Carrego essa tensão o tempo todo. Medo de induzir o presidente da Casa a erro. Um erro, se for um fato político, ganha grandes proporções. Aqui há situação e oposição e, se votou, está votado.

oglobo.com.br/pais