Título: Grilo falante da Câmara é elogiado até na crise
Autor: Lima, Maria; Alvarez, Regina
Fonte: O Globo, 17/05/2009, O País, p. 8

Mozart Viana, ex-datilógrafo que virou secretário-geral da Mesa, ganha deferência especial por bons serviços

BRASÍLIA. No momento em que os escândalos que atingem o Legislativo envolvem parlamentares e servidores de alto escalão, o secretário-geral da Mesa Diretora da Câmara, Mozart Viana de Paiva, é uma exceção e uma unanimidade. Servidor de carreira que começou como datilógrafo, é o principal assessor de plenário, seja nos momentos tensos de votação ou na preparação dos pareceres regimentais que sustentam decisões dos líderes. Carinhosamente, Mozart é comparado a um "grilo falante", pois fica cochichando no ouvido do presidente o que tem que ser feito nas sessões.

Tímido e com atuação mais técnica que política, Mozart Viana é um exímio regimentalista, e resiste num cargo de muita visibilidade há 18 anos. Desde a Constituinte, trabalhou com nove presidentes da Câmara e é admirado por parlamentares de todos os partidos. Em seu gabinete, uma foto mostra uma deferência especial: lá está Mozart ao lado do falecido ex-presidente Luís Eduardo Magalhães.

Na gestão de Severino Cavalcanti (PP-PE) teve trabalho triplicado. Mas foi recompensado. Na época, o primeiro vice-presidente José Thomás Nonô (DEM-PE) disse: "Se não tiver uma cadeira para Mozart na Mesa a meu lado, não presido mais as sessões". Severino mandou botar a cadeira para o secretário-geral. Agora, ele tem assento cativo na Mesa. Discreto, Mozart, que foi seminarista, desdobra-se em jornadas de 10 a 12 horas por dia:

- Todos nós presidentes, podia ser o mais sabido, o mais intelectual, o mais inteligente, todos dependíamos do Mozart. Ele é o sustentáculo da Mesa e do plenário. É corretíssimo. Não conheço desatino dele. Nunca me pediu para fazer irregularidades. Tenho orgulho de ter incluído uma cadeira a mais na Mesa do plenário para ele ficar sentado pertinho do presidente - relembra Severino.

Semana passada, o presidente Michel Temer (PMDB-SP) demonstrou uma reverência especial a Mozart. Fez no plenário discurso em homenagem a ele, como presente de aniversário. Com a voz mansa, sempre calmo e muito atencioso, Mozart consegue atender as demandas da Mesa e dos jornalistas e dá atendimento individual a todo parlamentar que bater à sua porta pedindo ajuda para resolver um problema.