Título: Crise amplia violência, diz economista
Autor: Almeida, Cássia
Fonte: O Globo, 17/05/2009, Economia, p. 26

Atividade ilícita aparece para o jovem na hora de ele começar a trabalhar

A relação entre variáveis econômicas como desemprego e homicídio é conhecida, segundo o economista do Banco Itaú Marcos Lisboa, estudioso da questão da violência. Há estudos internacionais e brasileiros cruzando dados de homicídio com informações de renda, desemprego, idade e local de origem das pessoas.

- Estudou-se até mesmo a relação entre a liberação do aborto e a queda no número de homicídios - afirmou Lisboa, ao comentar o estudo de Roberta Guimarães.

Segundo o economista, o desemprego é tradicionalmente mais alto entre os jovens, mas isso não significa que há maior dificuldade para eles encontrarem uma vaga, na comparação com trabalhadores de outras faixas etárias.

- O jovem muda muito de emprego, ainda está experimentando o mercado de trabalho.

Para Lisboa, o que eleva a criminalidade é o aumento da taxa de desemprego, como resultado da piora do momento econômico. Os efeitos são diferentes para jovens e adultos, diz o economista.

- Quando a economia está ruim e o desemprego aumenta, também cresce a violência. É o momento da entrada dele no mercado de trabalho, e a atividade ilícita aparece como opção. Um adulto com longa vivência no mercado de trabalho dificilmente entra no mundo ilícito. O jovem não. E esses jovens que estão na ilegalidade morrem numa frequência muito alta, sobretudo em conflitos entre eles ou com a polícia - explica.

De acordo com o economista, os homicídios por tentativa de assalto ou outro ato violento são uma proporção relativamente reduzida do total de assassinatos.

Mas ele vê essa relação direta, encontrada por Roberta, de que, quando aumenta em 1% a ociosidade (aqui incluídos os desempregados mais os que não estudam nem trabalham), também cresce o número de homicídios nessa mesma proporção.

- A piora da perspectiva econômica incentiva a entrada na ilegalidade dos jovens carentes, sobretudo nas áreas urbanas, que concentram a maioria das vítimas de homicídio. O grande desafio é evitar que esse jovem entre no mundo ilícito. Porque depois é muito difícil resgatá-lo. O importante é investir para evitar a entrada nesse mundo. O que não é trivial.

Lisboa reconhece que o maior desafio é manter os jovens na legalidade, na escola, mas vê as atividades criativas como um caminho eficiente de sair da criminalidade:

- Existem projetos envolvendo atividades criativas e esportes que têm sido bem-sucedidos em aumentar a permanência de jovens na escola. E projetos desse tipo devem ser estimulados. (Cássia Almeida)