Título: A prioridade passou a ser a recuperação econômica de cada um
Autor: Nobrega, Camila
Fonte: O Globo, 17/05/2009, Economia, p. 28

Sérgio Serra é embaixador extraordinário para Mudanças Climáticas do Itamaraty e representará o Brasil na reunião de Copenhague, em dezembro, onde se discutirá um novo Protocolo de Kioto. Para ele, o novo acordo deverá será muito prejudicado pela crise.

Os dados mostram que está havendo um retrocesso nos investimentos em sustentabilidade desde o início da crise. O senhor acredita que o mundo, de uma forma geral, tenha deixado de dar prioridade a esse tipo de investimento?

SÉRGIO SERRA: Certamente, as consequências da crise para o meio ambiente são negativas. Os aspectos de mudança do clima, em um contexto de dificuldades financeiras, perdem a urgência. A prioridade passou a ser a recuperação econômica de cada um. Mas os esforços, por meio de investimentos, ocorrem de formas distintas. A Coreia do Sul está destinando 80% dos investimentos anunciados em seu plano de recuperação econômica para energia limpa, enquanto nos demais países a porcentagem é muito menor.

Quais serão os efeitos desse adiamento dos investimentos para o planeta?

SERRA: Um efeito perverso da crise é o adiamento dos planos. Esses investimentos deveriam ser iniciados agora, para gerar benefícios a longo prazo. Estávamos caminhando para negociações maiores sobre redução de emissões de carbono no mundo, e agora certamente enfrentaremos resistências de vários países. Por outro lado, temos um benefício natural com a desaceleração da economia mundial, porque as emissões estão sendo reduzidas.

Quais são suas expectativas para o encontro em dezembro, em Copenhague, quando será discutida a assinatura de um novo Protocolo de Kioto?

SERRA: Pelo decorrer das negociações, já estamos vendo que será difícil mobilizar recursos suficientes para ampliar as metas. Vai haver relutância dos países ricos em destinar grandes quantias para a construção de um novo sistema mundial. No entanto, há trilhões aplicados na recuperação da economia americana. O mundo precisa ver que é possível reverter as mudanças climáticas, mas esforços ainda maiores têm que começar agora. (Camila Nobrega)