Título: Governo tem maioria e quer controle da CPI
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 19/05/2009, O País, p. 3

Mas ficará refém da tropa de choque de Renan; Collor também deve participar.

Diante da constatação de que a instalação da CPI da Petrobras será inevitável, o governo está desarticulando a audiência que havia negociado na semana passada com o presidente da estatal, José Sergio Gabrielli. A intenção era reunir três comissões do Senado em audiência conjunta para ouvir de Gabrielli esclarecimentos sobre as denúncias que atingiram a empresa. Com o novo quadro, os partidos da base governista deverão se reunir hoje para definir estratégias, garantir o controle da comissão ¿ presidência e relatoria ¿ e discutir a escalação do time. Investigado por uma CPI quando era governo, o ex-presidente e hoje senador Fernando Collor (AL) deve integrar agora a comissão de investigação da Petrobras, pelo PTB. Também deve participar da já conhecida tropa de choque do PMDB, sob o comando do líder Renan Calheiros (AL), com nomes como Almeida Lima (SE) e Gilvam Borges (AP).

Como maior partido da Casa, além de poder reivindicar a presidência, o PMDB pode indicar até mesmo o próprio Renan como suplente.

A ideia inicial é aproveitar a vantagem numérica a favor da base aliada sobre a oposição ¿ os governistas terão oito titulares na CPI e a oposição, apenas três ¿ para assegurar tanto a presidência como a relatoria.

¿ Melhor ficar vermelho um dia e assegurar o comando total da CPI do que passar os próximos 180 dias amarelo ¿ defendia ontem um líder governista.

A oposição, porém, pretende brigar por um dos postos de comando.

¿ Se o governo não quiser ceder a relatoria ou a presidência para a oposição, vai começar esticando a corda. Não é o ideal para quem diz que não quer criar dificuldades à Petrobras ¿ advertiu o líder do DEM, senador José Agripino Maia (RN).

Mercadante e Delcídio seriam nomes do PT

O PSDB e o DEM poderão indicar apenas três dos 11 titulares da CPI da Petrobras. São duas vagas para o DEM, de direito, e uma para o PSDB. Mas os democratas cederam uma segunda cadeira aos tucanos, já que eles pediram a CPI. Uma delas deverá ser ocupada pelo senador Álvaro Dias (PSDB-PR), autor do requerimento de criação da comissão. A outra, pelo senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) ou pelo líder da bancada, Arthur Virgílio (AM).

O bloco de apoio ao governo, composto por PT, PSB, PR, PCdoB e PRB, deverá discutir as indicações para as três vagas a que terão direito. O líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP), não escondeu a disposição para ocupar uma delas. Outros candidatos fortes para compor a CPI são Delcídio Amaral (PTMS) e Ideli Salvatti (PT-SC), escolhida ontem líder do governo no Congresso, em substituição a Roseana Sarney (PMDB-MA), que foi empossada governadora do Maranhão.

¿ Esse é um assunto que será discutido ainda pelo bloco. Posso apenas dizer que estou totalmente disponível e disposto a participar, até porque, essa CPI, além de investigar os fatos determinados, poderá abrir um debate profundo sobre o futuro da Petrobras e o marco regulatório do pré-sal ¿ afirmou Mercadante.

Das três vagas reservadas para o bloco PMDB-PP, uma delas deverá ser ocupada pelo líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), que já teria até feito o pedido para o líder Renan Calheiros. As outras duas cadeiras poderão ser entregues a nomes de confiança de Renan: Almeida Lima e Gilvam Borges.

O líder do PTB, senador Gim Argello (DF), adiantou que indicará o ex-presidente Fernando Collor para a vaga do partido. A última vaga caberá ao PDT.

Jogo duplo do PMDB preocupa Planalto

Avaliação feita ontem por integrantes do núcleo de articulação política no Planalto indica que a CPI da Petrobras deixará o governo refém de sua base no Senado, e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva já estaria ciente disso.

A maior preocupação é com o comportamento do PMDB, que tem demonstrado nos bastidores interesse pela criação da CPI.

Segundo um auxiliar direto do presidente Lula, o jogo duplo do PMDB teria ficado claro na semana passada, em meio às articulações do governo para tentar impedir a criação da CPI. A percepção é de que os aliados querem usar a comissão para ampliar espaço no governo e dar o troco por recentes atritos. O último deles foi o afastamento de servidores da Infraero indicados por políticos, que atingiu diretamente parentes do líder do governo, Romero Jucá, e do líder do PMDB na Câmara, Henrique Eduardo Alves (RN).

Além disso, integrantes do governo estão convencidos que o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), quer usar a CPI para desviar o foco das denúncias que paralisam a Casa desde que ele assumiu o comando da instituição, em fevereiro. O grande temor do núcleo palaciano é que a CPI saia do controle. Por isso, a recomendação é para que seja escalada uma tropa de absoluta confiança dos líderes. Mas o governo desconfia que alguns nomes do PMDB e do PTB sejam mais fiéis aos respectivos partidos. No Planalto, já foi identificado um movimento peemedebista para tentar enfraquecer o governo de olho nas negociações da chapa presidencial de 2010.