Título: China deve liberar só frango do Brasil
Autor: Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 19/05/2009, Economia, p. 17
Decisão sobre carne suína fica para outubro. Petrobras negocia crédito de US$ 10 bi.
PEQUIM. A abertura do mercado chinês às carnes suína e bovina brasileiras ¿ um dos principais objetivos da visita oficial de três dias do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que desembarcou ontem na China, depois de passar pela Arábia Saudita ¿ não deverá ser concedida.
Apesar da insistência de técnicos do Ministério da Agricultura e de representantes do setor privado, que negociam desde a semana passada com autoridades chinesas, a China só deve anunciar ¿ provavelmente hoje ¿ a liberação imediata das licenças de importação da carne de frango.
Atualmente, há 24 frigoríficos de frango habilitados. Os chineses se comprometeram a comprar o produto há cinco anos, mas ainda não o fazem por entraves burocráticos.
Segundo fontes ligadas ao assunto, o governo chinês só deve anunciar em outubro uma decisão sobre a carne de porco.
Um dos maiores produtores de suínos do mundo, a China leva em conta a pressão interna. Até ontem, a condição dos chineses para a liberação era que o Brasil também comprasse deles.
No caso da carne bovina, o impasse começou há um ano, quando a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) devolveu a Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás o status de exportadores, retirado em 2005, devido a focos de febre aftosa. Mas a China só deu autorização a três frigoríficos. O governo brasileiro pediu o envio de uma missão ao Brasil para atestar a sanidade do produto.
Já a Petrobras tentava fechar, ontem, um financiamento de US$ 10 bilhões com o Banco de Desenvolvimento da China (BDC) e um contrato com a petrolífera chinesa Sinopec. Em entrevista à revista chinesa ¿Caijing¿, Lula disse que ¿os negociadores da China são duros¿. ¿Imagino que eles pensem a mesma coisa do outro lado¿, completou. O BDC deve conceder ainda US$ 800 milhões ao BNDES e US$ 100 milhões ao Banco Itaú.
Lula deve ser cobrado para reconhecer a China como economia de mercado, compromisso informal assumido em 2004, quando o presidente chinês, Hu Jintao, esteve no Brasil.
O governo brasileiro reluta a formalizar essa posição devido às pressões da indústria paulista e de outros países.
Classe média do país atrai empresas brasileiras Esta manhã, depois de uma entrevista à televisão chinesa, Lula vai à Academia de Ciências Sociais, para a inauguração do Centro de Estudos Brasileiros.
Em seguida, participa de um encontro com empresários dos dois países. À tarde, Lula se reúne com o primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, o vice-presidente, Xi Jinping, e o presidente da Confederação Consultiva do Povo Chinês, Jia Qinglin. Amanhã, partirá para a Turquia.
A expansão da classe média chinesa ¿ 300 milhões de pessoas ¿ já atraiu várias empresas brasileiras, como a Embraco Snowflake, líder mundial em compressores herméticos, e a fabricante de calçados Arezzo.
João Carlos Lemos, gestor da Embraco que vive em Pequim, ressalta que é preciso conquistar a confiança dos chineses: ¿ Não tente enrolá-los. Você não terá uma segunda chance.
Já a representante da Arezzo, Gabriella Cunha, afirma que a barreira da língua precisa ser superada. A rede já tem quatro lojas no país e está abrindo mais quatro. César Yu, executivo responsável pelo Centro de Negócios da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) que será inaugurado hoje em Pequim, garante que está mais fácil viver na China: ¿ Não se pode mais falar em choque cultural entre brasileiros e chineses. Isso acabou com a globalização.