Título: Governo contra governo na CPI
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 20/05/2009, O País, p. 3

Renan e Mercadante batem de frente, levando o Planalto a temer ficar refém do PMDB

Divergências entre os partidos da base aliada impediram ontem que o governo fechasse sua estratégia de atuação na CPI da Petrobras. No epicentro dos embates está a disputa entre os próprios governistas pelo comando da comissão. Desentendimentos entre os líderes do PMDB, Renan Calheiros (AL), e do PT, Aloizio Mercadante (SP), dificultaram o acordo.

Numa reunião comandada pelo ministro das Relações Institucionais, José Múcio, chegou-se a cogitar a possibilidade de Mercadante assumir a presidência da CPI e delegar ao líder do governo no Senado, Romero Jucá (RR), a relatoria. Uma fórmula que não agradou em nada a Renan.

Nos bastidores, o PMDB faz críticas a essa composição, alegando que reforçaria a ideia de uma investigação chapa-branca. Descontente, a liderança do partido não descarta nem a possibilidade de ceder o comando da CPI para o DEM, que tenta emplacar o nome do senador Antonio Carlos Magalhães Júnior (BA) para o cargo.

A divergência entre os partidos da base acabou exposta pelo próprio Renan, contrário à indicação de líderes para a CPI - o que poderá frustrar a estratégia inicial do governo de fazer Jucá relator da comissão.

- Os líderes podem participar e falar quantas vezes quiserem numa CPI. Não considero necessário ter esse critério para a indicação dos nomes - disse Renan, que só chegou no fim da reunião promovida por Múcio.

No Planalto, a estratégia é resolver primeiro a disputa interna na base e depois instalar a CPI. Caso isso não ocorra, há o risco de o governo ficar refém dos próprios aliados, advertiu ontem um auxiliar direto do presidente Lula. O clima é de apreensão com a disputa entre PT e PMDB em plena fase de escolha de nomes para a CPI.

Clima ultrapassou limite de civilidade

Avaliação no Planalto é que o governo não pode chegar rachado à CPI, pois isso deixaria a estatal exposta durante as investigações. A constatação é que o clima entre Renan e Mercadante ultrapassou os limites de civilidade. Intermediários do presidente Lula chegaram a pedir ajuda ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), para contornar a situação. Sarney reuniu Renan e o líder do PTB, senador Gim Argello (DF), para discutir os nomes que os dois partidos indicariam para a CPI.

No governo, o maior temor é que esse clima de confronto tome conta dos trabalhos da CPI, o que levaria a uma composição pontual do PMDB com a oposição. O governo acredita que, nesse cenário, ficará muito fragilizado durante as investigações.

Com as divergências, Renan optou por adiar as indicações do PMDB. O partido terá direito a três vagas de titular e duas de suplente. Já o DEM admitiu ceder uma das duas vagas a que teria direito para os tucanos. Em troca, o PSDB defenderia um nome do partido para um dos cargos de comando da CPI. Entre os três democratas cotados, apenas ACM Júnior pode ser titular: Heráclito Fortes (DEM-PI) e Demóstenes Torres (DEM-GO), que já atuam em outras CPIs, podem ser suplentes. Com três nomes também interessados em participar da CPI - Álvaro Dias (PR), Tasso Jereissati (CE) e Sérgio Guerra (PE) -, o PSDB já sinalizou que aceita o acordo, que poderá reforçar o racha na base governista.

Ontem, depois da reunião com o ministro Múcio, o governo deixou claro que não vai mesmo abrir mão nem da presidência nem da relatoria da CPI. Múcio disse que os líderes governistas levaram em conta o regimento do Senado, que determina respeito à proporcionalidade das bancadas:

- O governo vai usar o regimento, mas quem decide são os líderes. É só ver como aconteceu no governo anterior (Fernando Henrique). Mas há espaço para conversar.

oglobo.com.br/pais