Título: Tratamento pode ter outros efeitos
Autor: Camarotti, Gerson; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 20/05/2009, O País, p. 10

A cura tem um preço que vale a pena", diz médico.

SÃO PAULO e RIO. O uso de corticoides, que provocou miopatia na ministra Dilma Rousseff, é comum no tratamento contra o câncer. A medicação é um suporte à quimioterapia e ajuda a destruir as células doentes. Segundo o onco-hematologista Cármino Antonio de Souza, da Faculdade de Medicina da Unicamp, "não é raro" que pacientes desenvolvam miopatia.

- Essas dores não têm nada a ver com o câncer. Linfomas não costumam causar dor. É um efeito adverso e transitório do tratamento. A cura tem um preço que vale a pena - explicou o médico, especialista em linfoma agressivo, a doença da ministra.

O tratamento pode causar ainda anemia, queda dos glóbulos brancos, problemas nos rins, fígado e pele, além da queda de cabelo.

- É como atravessar uma tormenta, mas que passa logo. A quimioterapia não é o inimigo. A queda do cabelo é um sinal de como o remédio chega a todas as partes do organismo - disse Cármino, que integra o Comitê Científico da Abrale (Associação Brasileira de Linfoma e Leucemia).

O oncologista Jacques Tabacof, do Centro Paulista de Oncologia, explicou que efeitos colaterais, como as dores, podem ser causados por medicamentos como o G-CSF, usado para aumentar os glóbulos brancos, melhorando a imunidade. Daniel Herchenhorn, chefe do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital do Câncer do Inca, afirma que, na quimioterapia, o mais comum é a sensação de fadiga (astenia). Dores musculares não seriam frequentes nesses casos. Daí a necessidade de uma observação mais rigorosa:

- Uma das drogas mais usadas na quimioterapia é o corticosteroide prednisona. Quando administrado por períodos longos, pode causar fraqueza muscular, mas, geralmente, não está associado a dor intensa.

Segundo Juliana Pereira, do setor de onco-hematologia do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, da USP, a reação depende dos remédios e da tolerância de cada um:

- Há casos de pacientes que fazem quimio e saem no mesmo dia para trabalhar; outros se queixam de cansaço e mal-estar por três dias.