Título: Lula se desdobrará para ocupar espaço de Dilma
Autor: Camarotti, Gerson; Oliveira, Eliane
Fonte: O Globo, 20/05/2009, O País, p. 10

Com saúde fragilizada, ministra terá de reduzir agenda, e presidente vai defendê-la pelo país como gestora do PAC

BRASÍLIA e PEQUIM. Com o recolhimento forçado da chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, por causa dos efeitos colaterais do tratamento quimioterápico, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá ocupar o espaço político deixado pela ministra nestes últimos dias, principalmente nos eventos para acompanhar as obras do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC). Segundo um auxiliar direto do presidente, a estratégia é que a agenda do PAC, principal vitrine da candidatura Dilma, seja mantida por Lula, principalmente fazendo discursos em que citará o trabalho da ministra para tocar as obras, além de sua necessidade de se recolher por causa da doença.

Para o núcleo do governo, essa será a melhor fórmula para amenizar o afastamento público da ministra e, ao mesmo tempo, mantê-la em evidência como principal gestora da equipe de Lula. Assim, Dilma permaneceria na vitrine, mesmo durante o tratamento. Depois da internação da ministra em São Paulo, na madrugada de ontem, colegas de governo desmentiram a informação de que ela tiraria uma licença. Mas, nas palavras de um integrante da cúpula do PT, acabou a ilusão de que Dilma poderia manter uma agenda intensa. É a realidade da doença, reforçou um assessor do Planalto.

O consenso na Presidência e no PT é que, obrigatoriamente, Dilma terá que reduzir o ritmo de trabalho. A determinação dada por Lula, que está em viagem à China, é que a ministra, debilitada por causa do tratamento para combater um câncer linfático, suspenda a agenda externa até ficar completamente recuperada. Ministros e petistas reconhecem que, agora, é preciso cuidar da saúde e evitar o desgaste de exposições públicas. Por isso, foi cancelado o evento que ela teria em Fortaleza, para um balanço do PAC, amanhã.

- O tratamento de quimioterapia é muito puxado. É preciso estabelecer um ritmo mais brando de trabalho. A agenda será limitada pelo menos nos próximos dois ou três meses. A ordem é para ela repousar mais - disse o líder do PT, senador Aloizio Mercadante (SP).

- Dilma está bem. Mas é preciso dar uma diminuída na agenda - reforçou o ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro.

Oposição também perde referências para 2010

A internação de emergência de Dilma aumentou a incerteza em relação à sua candidatura e ampliou o clima de paralisia nas articulações políticas. Os petistas avaliam que não dá para negociar alianças com a ministra em tratamento, pois o partido ficaria enfraquecido nos acertos com o PMDB. Na oposição, também há dúvidas. Para o presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), o fator de imprevisibilidade da candidatura petista acaba deixando os tucanos imobilizados no projeto para 2010:

- O tratamento prejudica não só a visibilidade de Dilma, mas a nossa, porque ficamos sem referência. Tudo o que desejamos é um quadro estável para a disputa presidencial.

Lula telefonou para Dilma, de Pequim. Ontem, ele contou que falou também com o médico Roberto Kalil. Lula recebeu duas ligações de Brasília na noite de segunda-feira, antes da internação de Dilma. Primeiro, soube das dores da ministra. Mais tarde, antes de se encontrar com o presidente Hu Jintao, assessores telefonaram para tranquilizá-lo.

- Falei com o dr. Kalil, mas preciso conversar de novo com ele, esperar os exames para ver direito o que aconteceu - disse Lula.

* Enviada especial a Pequim

oglobo.com.br/pais