Título: Dilma deixa hospital e diz que é de mau gosto misturar política e doença
Autor: Farah, Tatiana
Fonte: O Globo, 21/05/2009, O País, p. 4

SUCESSÃO: "Peço certo resguardo porque não sei como meu organismo reage"

Ministra fará ajuste no tratamento e suspende agenda para descansar

SÃO PAULO. A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, teve alta ontem do Hospital Sírio-Libanês, onde estava internada com dores musculares decorrentes do tratamento contra o câncer linfático, e deu um recado a quem especula que ela deixará de concorrer à Presidência da República por causa da doença:

- Acho de muito mau gosto misturar uma doença que é hoje curável com questões políticas. A própria população vai entender que isso não é adequado.

A ministra afirmou que não deve mudar o ritmo de trabalho, mas suspendeu a agenda do fim de semana: um congresso da CUT, um almoço com mulheres do meio político e artístico, uma reunião com líderes do movimento social e uma plenária.

- A gente estava pensando em suspender a agenda do fim de semana porque é o momento da minha baixa imunidade - explicou ela.

Efeito colateral provocou internação anteontem

Dilma foi internada na madrugada de anteontem com fortes dores nas pernas. Segundo os médicos, a dor foi efeito colateral do tratamento contra o linfoma (câncer linfático). Os médicos pediram que ela reduza o ritmo, principalmente no período da quimioterapia, que ocorre a cada três semanas.

- É muito mais por uma questão de ir e voltar - disse a ministra, que nas duas primeiras sessões foi do hospital para Brasília. - Não tem a ver com ritmo de trabalho. Cada um reage de um jeito. Tenho reação se tirar a cortisona.

A ministra explicou que a suspensão de cortisona, depois de cinco dias de medicação, causou as dores. Os médicos diagnosticaram miopatia, possível efeito colateral do tratamento. Depois da quimioterapia, os pacientes tomam cortisona por quatro dias. Segundo a ministra, o tratamento será ajustado e a cortisona será dada em doses menores até ser suspensa.

De bom humor após 35 horas de internação, Dilma disse que está usando uma "peruquinha básica" - um dos efeitos da quimioterapia é queda de cabelo:

- Estou usando uma peruquinha básica, como vocês podem notar. Espero que, logo que começar a crescer (o cabelo) e tiver uma altura mais ou menos do tamanho dos masculinos, eu possa tirar a peruca. Porque é muito chato peruca.

Dilma voltou a dizer que não fala da candidatura "nem amarrada" e pediu privacidade:

- Sei que sou uma figura pública, mas a um pouco de privacidade tenho direito. Dou as declarações a vocês a posteriori. Peço a vocês certo resguardo, porque não sei como meu organismo reage. Tem horas que reage muito bem. Tive isso, não era esperado. Prefiro falar com vocês depois que passar.

A ministra contou ter feito um "despacho básico" ao telefone com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, anteontem.

- Agradeço às pessoas que estão rezando por mim. Não quero dizer que não foi um dia ruim. Foi ruim. Dor é sempre desagradável, mas, quando ela passa... Graças a Deus não tinha algo mais complicado.