Título: Menos "decoreba"
Autor: Couto, Rodrigo
Fonte: Correio Braziliense, 01/04/2009, Brasil, p. 09

Proposta de unificação das provas de ingresso na universidades públicas do país prevê um novo Enem, com 200 questões. Reitores se reúnem na próxima segunda-feira, em Brasília, para avaliar o modelo

O Ministério da Educação apresentou ontem a proposta de unificação das avaliações de ingresso das 55 universidades federais e das instituições estaduais, chamada de Novo Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). A mudança na forma de ingresso no ensino superior pode começar ainda este ano, a depender da adesão das instituições de ensino. Se desejarem, as particulares também poderão participar do novo modelo, que prevê a aplicação de 50 itens de múltipla escolha para cada uma das quatro provas, divididas por áreas de conhecimento: linguagens (português, redação, inglês ou espanhol), ciências humanas, ciências da natureza e matemática. No total, serão 200 questões ¿ 100 aplicadas em cada dia.

Anunciado oficialmente e detalhado ontem, em Brasília, pelo ministro da Educação, Fernando Haddad, o novo vestibular não é obrigatório e pode ser realizado mais de uma vez por ano ¿ diferentemente do Enem, que é aplicado apenas uma vez a cada 12 meses. ¿As instituições que decidirem adotar a avaliação unificada podem continuar com outras seleções, como o Programa de Avaliação Seriada (PAS), da Universidade de Brasília, e provas específicas necessárias para os cursos de arquitetura e medicina, por exemplo¿, observou Haddad.

A ideia do ministério é de que a passagem da educação básica para o ensino superior não seja apenas menos traumática, mas sim mais instigante, inteligente e inspiradora. A ênfase excessiva de decorar fórmulas e conceitos também deve perder espaço no novo vestibular. ¿Não queremos acabar com a memorização, mas vamos combinar os itens das provas de maneira a aferir a capacidade analítica e a capacidade dos alunos resolverem problemas, que é o que o exame seletivo deveria fazer. Como consequência, o currículo do ensino médio vai se tornar mais leve e inteligente¿, afirma o ministro.

Encaminhada pelo Ministério da Educação à Associação Nacional dos Dirigentes de Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) na segunda-feira à noite, a proposta foi repassada a todos os reitores na manhã de ontem. Sem adiantar qualquer previsão sobre a aceitação do novo vestibular entre as universidades, o presidente da Andifes, Amaro Henrique Lins, reitor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), disse que algumas das novas medidas da proposta já são adotadas por alguns instituições. ¿A partir de agora, vamos aprofundar as discussões sobre o ingresso, a mobilidade do estudante e a oportunidade igual para todos¿, afirmou Lins. Os reitores das universidades federais se reúnem na sede da Andifes, em Brasília, na próxima segunda-feira, a partir das 14h, para fazer uma avaliação da proposta. O ministro da Educação também deve participar da reunião. Mas a decisão final de aderir ou não ao novo vestibular ficará a cargo dos conselhos superiores de cada instituição.

Contextualização O novo exame vai ser uma avaliação intermediária entre o atual Enem e os vestibulares das universidades federais. ¿Os ganhos serão muito significativos, pois vai ter mais conteúdo que o exame nacional e será mais focado na viabilidade de problemas e contextualização de questões do dia a dia¿, destacou Reynaldo Fernandes, presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Apesar de os critérios do exame ainda estarem totalmente definidos, Fernandes adiantou que o resultado obtido pelo estudante em uma avaliação continuará válido mesmo após a aplicação de outro Enem. ¿Ele só vai refazer para aumentar a pontuação.¿

Outro ponto positivo apresentado por Fernando Haddad é a mobilidade do estudante. ¿Ele vai poder escolher a universidade onde deseja estudar, de acordo com a nota que obtiver na prova. Quanto maior a pontuação, maior a possibilidade de ingressar na instituição e curso escolhidos¿, afirmou o ministro. Segundo Haddad, apenas 0,04% dos estudantes matriculados no primeiro ano do ensino superior têm origem em estado diferente da unidade da federação onde estudam. ¿Nos Estados Unidos, por exemplo, aproximadamente 20% dos alunos são oriundos de estados diferentes de onde cursam a universidade.¿

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