Título: US$1,1 bi para puxar o dólar
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 21/05/2009, Economia, p. 17

Banco Central compra moeda, mas cotação cai ao menor nível desde outubro.

Aforte entrada de investimentos estrangeiros no Brasil fez o dólar ter ontem mais um dia de queda. Para evitar que a moeda despencasse abaixo de R$2, o que pode prejudicar exportadores, o Banco Central (BC) comprou cerca de US$1,185 bilhão no mercado à vista. Segundo especialistas, é praticamente inevitável que a moeda chegue a R$1,80 ou até cotações ainda mais baixas. Na operação de ontem, a autoridade monetária aceitou ofertas a R$2,0188. Com a atuação do BC e a queda da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) no fim do dia, o dólar respondeu e encerrou os negócios a R$2,027, em queda de 0,39%.

Durante o dia, a moeda chegou a ser negociada a R$2,014, cotação na qual não encerra os negócios desde 1º de outubro (quando fechou a R$1,925). No dia seguinte, ultrapassou os R$2 e não voltou a ficar abaixo deste patamar. O volume comprado ontem pelo BC é o maior desde antes do agravamento da crise, em setembro. Desde então e até o fim de abril, vinha vendendo dólares, ou fazendo operações equivalentes à venda da moeda no mercado futuro, para evitar uma queda mais forte do real.

No início de maio, BC voltou a comprar dólares, mas em volumes menores, entre US$100 milhões e US$200 milhões por dia. O volume de ontem é equivalente ao de todas as operações desde o início do mês somadas. Com isso, o montante em maio se aproxima de US$2,4 bilhões. Só na Bovespa, o saldo (compras menos vendas) de investidores estrangeiros está positivo em R$2,041 bilhões no mês e em R$7,158 bilhões no ano.

Segundo dados do próprio BC, a entrada de moeda estrangeira no Brasil superou a saída em US$2,059 bilhões nos primeiros 15 dias de maio. O superávit foi puxado pela operações financeiras (que incluem os negócios na Bolsa, entre outros), com ingresso líquido de US$1,401 bilhão. O saldo do comércio com outros países na primeira quinzena do mês (contratos de câmbio fechados) foi positivo em US$658 milhões. Com os superávits, o movimento total de câmbio em 2009 voltou a ser positivo, em US$516 milhões. A essa altura, em 2008, o saldo já batia na casa dos US$17,140 bilhões.

Apostas do real contra dólar australiano aumentam fluxo

Segundo o diretor da corretora Pioneer, João Medeiros, estão sobrando dólares nos bancos:

- O dólar está mais para R$1,80 do que para R$2,10 - prevê.

Segundo operadores, o fluxo ontem foi puxado por operações de carry trade. Nessas transações, os investidores vendem moeda ou títulos de um país com juros baixos, para comprar de outro com taxas altas, e ganham com a diferença. As operações recentes estariam sendo feitas entre Brasil e Austrália, que, segundo pesquisa da Uptrend Consultoria, tem taxa real (juros menos inflação) de 0,5% ao ano, enquanto os brasileiros estão em 5,8%, entre os maiores do mundo. Ou seja, um ganho real de 5,3%, em um momento de queda dos juros mundiais. A aplicação estaria sendo recomendada por bancos estrangeiros.

Já a Bolsa chegou a bater 52.640 pontos, mas encerrou em queda de 0,20%, aos 51.245 pontos, derrubada pela bolsa americana. As ações de Sadia e Perdigão lideraram as altas: subiram 8,56% e 8,71%, respectivamente, com a divulgação de relatórios positivos de corretoras sobre a fusão.

Em Nova York, a bolsa eletrônica Nasdaq caiu 0,39% e o Dow Jones, 0,62% após a divulgação de um quadro sombrio para os EUA. O Federal Reserve (Fed, o BC americano) informou, na ata de sua reunião de 28 e 29 de abril, que espera melhora nas vendas e na produção industrial no segundo semestre, mas estima retração da economia entre 1,3% e 2% este ano, contra projeção anterior entre 0,5% e 1,3%.

COLABOROU Eduardo Rodrigues, com agências internacionais