Título: Crise cobra a conta
Autor: Simão, Edna
Fonte: Correio Braziliense, 01/04/2009, Brasil, p. 11

Bolha global

Expansão dos gastos e queda na arrecadação fazem economia do governo para pagar juros da dívida pública baixar de R$ 20,5 bilhões para R$ 3 bilhões. Reajustes do funcionalismo estão ameaçados

A alta desenfreada dos gastos públicos, associada à abrupta queda das receitas com impostos, fez com que a economia do governo central ¿ que inclui as contas do Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social ¿ para pagamento de juros despencasse no primeiro bimestre do ano, passando de R$ 20,579 bilhões para R$ 3,049 bilhões. Em fevereiro, foi apurado o primeiro déficit primário para o mês desde 1997. O saldo ficou no vermelho em R$ 926 milhões ante R$ 5,217 bilhões de 2008. Esse é o preço que o governo está pagando para combater a recessão. Mas a fatura pode ser ainda maior e provocar o adiamento dos reajustes dos servidores públicos.

Para a redução da arrecadação, o governo explicou que ela reflete o impacto da crise mundial na atividade econômica, mas a recuperação deve vir nos próximos meses. Já para a elevação dos gastos ¿ focada principalmente no reajuste e pagamento de benefícios ao funcionalismo público ¿ , o secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, destacou que a expansão não preocupa porque não será tendência para o ano. Disse até que a ampliação dessas despesas ¿ tão criticada por analistas de mercado ¿ é positiva por ser uma política anticiclíca, ou seja, a melhoria dos salário estimula o consumo neste momento de crise econômica.

¿O aumento das despesas não é negativo. É positivo. Não é uma tendência neste momento. Ele está ajudando a economia¿, disse o secretário. Os gastos com pessoal tiveram uma expansão de 25,4% nos dois primeiros meses do ano em relação a 2008. Por outro lado, os investimentos, que são fundamentais para a sustentação do Produto Interno Bruto (PIB), registraram acréscimo de 13,9% no bimestre, o que representa uma desaceleração na comparação com o mesmo período do ano passado (20,3%).

Peso dos servidores Com a ampliação dos gastos e a queda do montante de impostos recolhidos no país fica mais difícil de o governo federal cumprir a meta de superávit primário prevista para o quadrimestre. Por isso, não está descartada a possibilidade de adiamento dos reajustes para o funcionário público. Por enquanto, Augustin sustenta que as elevações de salários estão garantidas. ¿Essa discussão, o governo pode fazer no momento em que achar necessário. Por enquanto, os reajustes estão previstos, mas é uma discussão que pode ser feita¿, afirmou o secretário do Tesouro.

Para o secretário, o país tem condições de cumprir a meta de superávit primário quadrimestral, que é de R$ 17 bilhões. Por enquanto, a economia feita foi de apenas R$ 3 bilhões. Augustin acredita que ¿alguns indicadores¿ começaram a reagir e deverão trazer resultados positivos para a arrecadação daqui para frente. ¿No momento, é preciso manter o investimento e auxiliar a economia fazendo desonerações¿, afirmou Augustin. ¿O Brasil vai vencer essa crise. O movimento da retomada está apontando. A velocidade disso é que está sendo verificada¿, acrescentou.

Esse otimismo do secretário não é compartilhado por economistas como o Felipe Salto, da consultoria Tendências. Segundo Salto, o investimento público está crescendo muito lentamente, principalmente, se comparado com as despesas com pessoal. ¿O resultado de fevereiro só mostra que essa dinâmica é pior do que se previa. É preciso fazer o ajuste na despesa e diminuir o primário. Vai ter que fazer redução de gasto compulsoriamente¿, frisou.