Título: Falta de consenso leva reforma política a naufrágio na Câmara
Autor: Braga, Isabel; Jungblut, Cristiane
Fonte: O Globo, 22/05/2009, O País, p. 4

Cresce tendência de votar propostas alternativas ao financiamento público.

BRASÍLIA . Diante da falta de consenso e da forte pressão de PP, PR, PTB e PSB, inclusive com ameaças de obstruir as votações na Câmara desde ontem, a proposta de tentar votar a reforma política está cada vez mais distante. Como nos últimos anos, os temas mais polêmicos são bombardeados e, apesar do esforço, a Casa admite que só deverá votar pequenas alterações. Em reunião ontem com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), líderes tentavam salvar a votação.

Cientes de que os escândalos sobre caixa dois nas campanhas e da criminalização até de doações legais podem dificultar a arrecadação para 2010, cresce a ideia de aprovar o financiamento público, abandonando a lista fechada de candidatos para as eleições proporcionais.

Na tensa reunião, surgiram novas propostas: financiamento público exclusivo para cargos majoritários; fixar tetos de doação e gastos para campanhas proporcionais; e redução do número de candidatos, o que permitiria o financiamento público, com a divisão de valores de forma igual entre os que disputam por cada partido. Na próxima semana, os defensores do financiamento público e da lista fechada buscarão apoio para a tramitação em regime de urgência. PT, DEM, PPS e PCdoB já concordaram . O líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), defende a votação de temas alternativos, propostos por Flávio Dino (PCdoB-MA) ontem.

Os partidos mostraram o poder de obstrução. De manhã, o PR derrubou a votação consensual de 29 acordos internacionais. Temer pediu ao líder do PMDB que converse com os aliados até terça-feira. Henrique Alves está numa saia-justa porque a proposta de financiamento e lista fechada é defendida por Ibsen Pinheiro (PMDB-RS), mas tem resistência na bancada.

No encontro, líderes criticaram o projeto do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de reduzir de um ano para seis meses o prazo mínimo de filiação partidária para disputar as eleições. A proposta já tem assinaturas para tramitar em regime de urgência. E foi alvo de comentários do governador de Minas, Aécio Neves, que esteve ontem no Congresso e se reuniu com caciques do PMDB.

- Estou de olho no seu projeto - disse Aécio a Cunha, segundo os presentes.

Apesar da brincadeira com Cunha, em entrevista Aécio disse que a proposta de reduzir para seis meses o prazo mínimo de filiação lhe é "indiferente":

- Para mim, pessoalmente, é indiferente, mas é claro que essa janela fortalecerá quem tiver expectativa de poder, especialmente os grandes partidos.