Título: Executivos da Sadia e da Perdigão se antecipam e conversam com Cade hoje
Autor: Rodrigues, Eduardo; D'Ercole, Ronaldo
Fonte: O Globo, 22/05/2009, Economia, p. 23

Presidente do órgão diz não considerar caso "especialmente desafiador".

BRASÍLIA e SÃO PAULO. Os presidentes dos Conselhos de Administração da Sadia, Luiz Fernando Furlan, e da Perdigão, Nildemar Secches, vão se antecipar à obrigação legal e farão, hoje de manhã, uma apresentação informal sobre a fusão no plenário do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A informação é do presidente do Cade, Arthur Badin, que adiantou que um acordo de preservação da reversibilidade da operação (Apro) deve ser firmado para que as empresas continuem operando em separado até uma decisão final do órgão sobre a criação da Brasil Foods (BRF).

Perdigão e Sadia também devem apresentar ao Cade nos próximos 15 dias toda a documentação exigida por lei, mas a decisão só deve sair no fim do ano, após todas as instâncias de análise, incluindo pareceres das secretarias de Acompanhamento Econômico (Seae, do Ministério da Fazenda) e de Direito Econômico (SDE, do Ministério da Justiça).

- Não vejo esse caso como especialmente desafiador. É grande pelo tamanho das empresas, pela concentração de alguns mercados, mas posso garantir que será analisado com as mesmas tranquilidade e tecnicidade de todos os outros - disse Badin, ressaltando haver outros fatores, além do mercado, na análise. - Muitas vezes, uma elevada concentração não necessariamente gera poder econômico, que é a capacidade de determinar de forma unilateral a quantidade ofertada no mercado e, portanto, os preços. Depende também de outros fatores, como as barreiras de entrada em certos mercados ou o volume de importações desses produtos.

O secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Welber Barral, disse que a operação é boa para as exportações brasileiras de alimentos, porque a fusão criará eficiência em termos de marketing e redes de distribuição.

Furlan também conversará hoje com o ministro da Fazenda, Guido Mantega, em São Paulo.

Fusão pode afetar cesta básica, dizem especialistas

A criação da BRF, na verdade a venda da Sadia à Perdigão, lembra em muitos aspectos a da AmBev, união de Brahma e Antarctica. Como naquele caso, haverá a junção de marcas muito populares, com inevitável concentração de mercado em certos produtos. Mas, para especialistas, agora há uma diferença essencial: em vez de cerveja, a BRF terá muito poder de influir nos preços e na oferta de produtos da cesta básica, como frango e carnes processadas.

- As duas empresas têm pelo menos dez produtos de largo consumo na cesta do brasileiro, e esse aspecto vai exigir muita atenção de órgãos como o Cade - diz Pedro Dutra, conselheiro do Instituto Brasileiro de Defesa da Concorrência (Ibrac), que acredita que o processo deve levar de 12 a 18 meses.

A BRF já constituiu uma tropa de choque de especialistas para o embate no Cade. A Perdigão contratou o escritório Fontes, Tarso Ribeiro Advogados, do ex-ministro da Justiça e ex-titular da SDE Paulo de Tarso Ribeiro, que será assessorado pelo economista Jorge Fagundes, da UFRJ. Pela Sadia, foi destacada a advogada Barbara Rosenberg, do escritório Barbosa, Mussnich & Aragão, que será assessorada pela ex-presidente do Cade Elizabeth Farina, hoje sócia da Tendências Consultoria.