Título: Devassa não; parceria
Autor: Otavio, Chico
Fonte: O Globo, 24/05/2009, O País, p. 12

Juíza sergipana comanda equipe

SÃO LUÍS. Na semana passada, um juiz auxiliar da Corregedoria de Justiça do Maranhão conseguiu tirar do sério a juíza Maria da Conceição da Silva Santos. Normalmente calma e ponderada, cumprindo com diplomacia o papel de quase embaixadora dos tribunais superiores de Brasília nas Justiças estaduais, a juíza sergipana de 42 anos perdeu a paciência ao receber o projeto do colega maranhense para a tentativa de implantar um sistema de controle da produtividade dos magistrados da Justiça local.

¿ Percebi que nada mudaria.

Tudo permaneceria do jeito que está. Assim não dá mdash; queixou-se a coordenadora da equipe avançada do Programa Integrar.

Desde março, quando o programa começou, pelo Piauí, a vida de Conceição tem sido um constante abrir e fechar de malas. Ao ser convidada para trabalhar no CNJ, a então titular da Vara de Execuções Penais de Sergipe imaginava atuar na área prisional. Ele própria não esperava a guinada. Tanto assim que convenceu o marido a se mudar, com a filha do casal, de 4 anos, para Brasília, onde poderiam ficar juntos.

¿ Mas hoje o que menos tenho feito é ficar em casa.

O trabalho da equipe de Conceição, formada por 15 pessoas (entre juízes, técnicos judiciários e analistas de vários estados), é delicado.

Consiste em mudar uma cultura estabelecida há anos nos Judiciários estaduais.

Em alguns casos, o pessoal do CNJ teve de usar máscaras e luvas para manipular processos que, de tão velhos, eram abrigos de fungos e ácaros, mesmo sem terem recebido uma sentença. Em outros casos, serviram de ouvidores de gente que vinha de vários cantos do Piauí e Maranhão, todos com uma queixa sobre algum juiz, atraídos pelo alarde feito pela imprensa local.

¿ A imprensa fala em devassa, mas não é isso que estamos fazendo. Nosso trabalho visa à implantação de boas práticas, em parceria com os magistrados e serventuários locais ¿ explica.

Até aqui, Conceição diz que não encontrou obstáculos, dos presidentes dos tribunais ao mais simples funcionário.

Mas abandona a diplomacia quando fala do papel dos próprios juízes no processo de transformação: ¿ Muitas vezes, colegas se referem aos problemas do Judiciário como não fossem deles também. Eles precisam se convencer de que devem prestar contas do que fazem à sociedade. Um dos mecanismos é o sistema de controle de produtividade.