Título: E o BB baixou os juros
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Globo, 26/05/2009, Economia, p. 15

Banco diminui taxas de 9 linhas de crédito e amplia limites de empréstimos.

BRASÍLIA OBanco do Brasil (BB) anunciou ontem a ampliação dos limites de empréstimos para 10 milhões de correntistas e cortes nas taxas de juros cobradas em nove linhas de financiamento pessoal para todos os seus clientes. Na última terça-feira, o GLOBO mostrou que, de acordo com dados divulgados pelo Banco Central (BC), os juros médios para pessoas físicas cobrados pela instituição vinham aumentando desde 15 de abril, na contramão do que foi exigido pelo governo. No dia 23 do mês passado, Aldemir Bendine havia substituído Antonio de Lima Neto na presidência do BB justamente com a missão de ampliar o crédito e reduzir as taxas.

O corte nos juros mínimos e máximos ¿ que beneficiará todos os clientes do banco, incluindo os da Nossa Caixa ¿ ocorre nos segmentos que financiam a compra de bens (material de construção, veículos, eletrodomésticos) ou têm as parcelas descontadas em folha de pagamento (crédito consignado), com menor risco de inadimplência para o banco. O percentual médio de reduções chega a 6,19%. A instituição, no entanto, alegou que as mudanças nas taxas e nos limites já estavam em estudo há mais tempo e teriam sido antecipadas pela nova gestão para aproveitar oportunidades no mercado.

Dependendo do valor do empréstimo, as reduções das taxas corresponderão a pequenas alterações nas prestações. Considerando apenas os juros (sem levar em conta outros impostos e taxas cobrados pelo banco), por exemplo, um financiamento de R$ 5 mil em 24 meses, com desconto em folha de pagamento, para trabalhadores da iniciativa privada, teria uma prestação de R$ 251,34 pela taxa mínima anterior, de 1,86% ao mês.

Com a nova taxa mínima, de 1,70%, a prestação cairia para R$ 247,01.

Segundo o vice-presidente de Crédito do BB, Ricardo Flores, a decisão de ampliar os limites em 5,25%, em média, para um terço dos cerca de 30 milhões de clientes que compõem a carteira do banco não foi tomada devido à pressão do governo. Na última terça-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a cobrar esclarecimentos de Bendine, mas acabou aceitando a justificativa do executivo, de que o ranking de juros do BC é ¿truncado¿ porque aborda apenas algumas linhas de financiamento. O BB também diz que o ranking não significa que o BB está praticando taxas mais altas ou mais baixas porque divulga a taxa média ponderada pelos volumes contratados em determinado período.

¿ Não foi uma decisão da noite para o dia, mas o processo foi acelerado nas últimas semanas, para colher os bons frutos do momento econômico do país e expandir a carteira do banco. Nosso objetivo é fidelizar clientes e ampliar nossa participação de mercado nestes segmentos ¿ disse Flores.

Instituição pode elevar reserva contra calote

O vice-presidente explicou que a mudança nos limites foi possível devido ao aperfeiçoamento da metodologia de análise de risco dos tomadores, que, a partir de agora, será confrontada com outra análise, que mede o potencial de consumo de crédito desses correntistas. A estimativa é oferecer R$ 13 bilhões a mais para empréstimos, dos quais R$ 3 bilhões devem ser contratados já nos próximos 12 meses.

¿ Estamos abrindo uma margem maior para clientes tradicionais com bom histórico de operações com o banco, que estão com seus limites medianamente usados e ainda têm apetite para tomar crédito ¿ afirmou.

O vice-presidente de Relações com Investidores, Aldo Mendes, revelou que o BB pretende aumentar o tamanho da carteira de crédito para consumidores dos atuais R$ 60 bilhões para R$ 100 bilhões em 2012.

Para o presidente da consultoria Austin Rating, Erivelto Rodrigues, o movimento do BB, além de ter um componente de marketing, segue uma tendência do setor bancário, cuja concorrência tem aumentado nos últimos meses.

¿ Como os spreads (diferença entre o custo do banco para captar dinheiro e os juros cobrados dos clientes, que inclui o lucro do banco) estão caindo, a solução para as instituições é mesmo aumentar o volume emprestado. O segredo é não comprometer a qualidade da carteira, correndo riscos maiores ¿ alertou Rodrigues.

Segundo a diretoria do BB, a provisão para devedores duvidosos (espécie de reserva que o banco faz para cobrir calotes na carteira de crédito), atualmente equivalente a 3,8% da carteira, pode ser elevado para até 4,2% em 2009. Ele afirmou que a inadimplência ¿ atrasos acima de 90 dias ¿ está abaixo da média dos outros grandes bancos do mercado.