Título: ONU condena Coreia do Norte
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Fonte: O Globo, 26/05/2009, O Mundo, p. 21

EUA pressionam por resposta a teste atômico que seria equivalente à bomba de Nagasaki

SEUL

O anúncio ontem da Coreia do Norte de que havia realizado um novo teste nuclear subterrâneo, o segundo em três anos, despertou uma onda de condenações internacionais como ainda não se vira em relação ao país, que não deixaram de fora sequer a China, seu maior aliado. O Conselho de Segurança da ONU, numa reunião de emergência, condenou a explosão por unanimidade, afirmando ser ¿uma clara violação da resolução aprovada em 2006 após o primeiro teste atômico¿, e começou imediatamente a trabalhar numa nova resolução.

Países como a França pressionavam por sanções mais fortes, enquanto os Estados Unidos pediam uma resposta conjunta.

O teste, considerado bem-sucedido pelo governo norte-coreano, foi seguido pelo lançamento de três mísseis de curto alcance, aparentemente para afastar aviões-espiões americanos. A medida aumenta a tensão entre a Coreia do Norte e a comunidade internacional ¿ uma escalada que incluiu o teste de um míssil de longo alcance em abril, a detenção de jornalistas americanos, a expulsão de inspetores da agência nuclear da ONU e a suspensão das negociações com o grupo de seis países (as duas Coreias, EUA, Rússia, China e Japão). A pressão internacional pareceu não funcionar e mais tarde fontes sul-coreanas revelaram que o vizinho está se preparando para lançar outro míssil entre hoje e amanhã.

¿ Os programas nuclear e balístico da Coreia do Norte representam uma grave ameaça à paz e à segurança do mundo. Condeno fortemente essa ação imprudente ¿ disse o presidente Barack Obama. ¿ Os EUA e a comunidade internacional devem agir.

A Coreia do Norte respondeu, afirmando que a política americana para o país continua ¿hostil¿, como nos tempos do ex-presidente George W. Bush.

¿Nosso Exército e nosso povo estão preparados para a batalha contra qualquer tentativa americana precipitada de ataque preventivo¿, afirmou a agência de notícias do governo, a KCNA.

A Coreia do Norte anunciou que o teste alcançou um ¿novo e elevado nível em poder explosivo e tecnologia¿.

Fontes independentes creem que a explosão alcançou de 5 a 20 quilotons ¿ uma potência bem maior do que a bomba de um quiloton testada em 2006. Se alcançou 20 quilotons, a bomba equivaleria à lançada sobre a cidade japonesa de Nagasaki na Segunda Guerra Mundial.

Alerta em cidade chinesa na fronteira

A explosão gerou um tremor de 4,5 graus na escala Richter, registrado por sismógrafos de EUA, Rússia, Japão e Coreia do Sul. Na cidade chinesa de Yanji, fronteira com a Coreia do Norte, funcionários e hóspedes de hotéis saíram às ruas, após o alerta de terremoto.

A Coreia do Sul, que nunca chegou a assinar um tratado de paz com o vizinho, colocou suas tropas em alerta.

Mesmo a China, o maior parceiro comercial do país, ¿opôs-se firmemente¿ ao teste, por ¿desestabilizar seriamente a situação no nordeste da Ásia¿.

Embora a Coreia do Sul acredite que a bomba não tenha detonado completamente, a Rússia considerou o teste uma ¿ameaça à segurança regional¿ e calculou que a explosão alcançou entre 10 e 20 quilotons. Alemanha, França, Reino Unido e Israel, entre outros, condenaram veementemente o teste.

A Coreia do Norte não deu detalhes sobre o local da explosão, mas o tremor foi detectado a nordeste de Kilju, o local do primeiro teste nuclear do país, dez quilômetros abaixo da superfície, às 9h54m (hora local). Os três mísseis de curto alcance foram disparados da mesma zona de onde um foguete foi lançado em 5 de abril.

Pobre e isolada, a Coreia do Norte usa seu programa nuclear para barganhar com o Ocidente.

Preocupações sobre a sucessão de seu líder, Kim Jong-il, emergiram em 2008, quando ele teria sofrido um derrame. O país já está tão isolado que resta pouco com o que puni-lo. A condenação da China, porém, é um fator novo na situação.

O Irã, que o Ocidente acusa de desenvolver armas nucleares, declarou não ter acordo de cooperação nuclear com a Coreia do Norte. Em outra frente de tensão, o presidente Mahmoud Ahmadinejad propôs um encontro com o presidente Obama, na ONU, caso seja reeleito no próximo mês. Ahmadinejad, no entanto, descartou fazer concessões no programa nuclear iraniano.