Título: Dólar abaixo de R$2
Autor: Frisch, Felipe; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 28/05/2009, Economia, p. 23

Moeda chega a R$1,998 durante o dia, mas fecha a R$2,015. Presidente do BC diz que governo pode taxar estrangeiros para conter especulação

Felipe Frisch e Martha Beck

O dólar comercial rompeu ontem, por alguns minutos, o piso de R$2, considerado uma importante barreira psicológica para a cotação da moeda americana, que gera receio de exportadores. Próximo da abertura dos negócios, às 10h, a divisa registrou queda de 0,99%, para R$1,998. No entanto, o humor do mercado financeiro virou e a moeda acabou encerrando o dia a R$2,015, com desvalorização mais leve, de 0,15%, mas ainda na menor cotação desde o começo de outubro do ano passado. Foi também o quarto dia consecutivo de recuo do dólar, que, só em maio, já caiu 7,61%. No ano, a perda chega a 13,67% em relação à cotação de R$2,334 do fim de dezembro. No mercado paralelo do Rio (negociado em casas de câmbio), no entanto, a queda total ainda não chegou e o dólar foi vendido ontem por R$2,12. No turismo também: no Banco do Brasil a cotação de venda ontem foi de R$2,08 e no Bradesco, de R$2,11.

- Os investidores tentaram furar os R$2, mas o dólar voltou rápido para acima disso. Se não houver uma melhora do mercado, acho que não vai abaixo de R$2, mas a moeda já testou essa cotação hoje (ontem) - disse Francisco Carvalho, gerente de câmbio da corretora Liquidez.

O presidente do BC, Henrique Meirelles, afirmou ontem que o governo tem instrumentos para conter uma entrada especulativa de dólares no Brasil. Citou como exemplo a cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimentos estrangeiros em renda fixa. Em audiência na Câmara dos Deputados, Meirelles disse que esse tipo de medida se mostrou eficiente no passado e pode ser usada novamente, se for necessário. Ele ressaltou, porém, que o assunto não está sendo cogitado, porque o fluxo neste momento não preocupa.

- Pelas nossas avaliações dos fluxos das últimas semanas, existe uma predominância de investimentos nas bolsas, empresas captando no mercado externo e investimento estrangeiro direto.

Queda de braço no mercado futuro

Essa semana, o dólar tem sofrido pressão de diversas direções, segundo analistas. Primeiro, pelo vencimento, na sexta-feira dos contratos de maio de dólar negociados no mercado futuro. Esses contratos são liquidados pela cotação oficial, a chamada Ptax, uma média do mercado interbancário, vigente no último dia útil do mês de vencimento. Segundo dados da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), as apostas dos investidores estrangeiros estão concentradas na ponta de venda. Ou seja, acertaram a venda da moeda a uma cotação e ganham se o dólar cair. Esses investidores pressionam pela queda. Já os que estão na ponta de compra tentam forçar a alta.

Além disso, na próxima segunda-feira vencem os contratos de swap cambial reverso vendidos pelo Banco Central (BC) no começo de maio a instituições financeiras. Nessa operação, o BC acertou a compra de dólar a R$2,14, em troca de uma taxa de juros. No entanto, caso a moeda americana caia em relação à cotação acertada, a vantagem é para os bancos, que venderão o dólar a um valor mais alto. Os bancos, portanto, também estariam pressionando pela queda da moeda. Há ainda a pressão da grande entrada de estrangeiros no país, em busca de ganhos com a Bolsa e com os juros dos títulos públicos. Em maio, até dia 22, o saldo de investimentos externos na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) é positivo em R$ 4,4 bilhões.

Para o diretor-executivo de câmbio da NGO Corretora, Sidnei Nehme, o dólar deve ficar abaixo de R$2 até o fim da semana, por causa dessas operações. Mas diz que, depois, a moeda deve voltar a valer mais de R$2.

A Bovespa, depois de subir e bater 53.092 pontos, maior pontuação desde o início de setembro de 2008, fechou em leve queda, de 0,09%, aos 51.791 pontos. Com o noticiário negativo da economia americana, investidores aproveitaram para embolsar ganhos recentes. O Ibovespa completou ontem sete meses desde que atingiu a pontuação mínima na crise (29.435), em 27 de outubro, o que resulta num ganho de 75,95% até ontem.