Título: Se eu eleger Dilma, vou ser presidente da Petrobras
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 27/05/2009, O País, p. 3

Lula lamenta impasse em acordo com Venezuela para construção da refinaria Abreu e Lima

Chico de Gois*

SALVADOR. As negociações entre Brasil e Venezuela para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, estancaram outra vez, por causa de divergências econômico-financeiras entre a Petrobras e a PDVSA, a estatal venezuelana de petróleo. Mas se dependesse da vontade política e do empenho pessoal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a parceria com o venezuelano Hugo Chávez já teria saído do papel. Além de brincar dizendo que, para fazer andar o acordo, assumirá a presidência da estatal, caso a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) seja eleita presidente ano que vem, Lula se queixou, ainda que indiretamente, do poder e independência das estatais.

- Se eu conseguir eleger a Dilma, eu vou ser o presidente da Petrobras e o (José Sergio) Gabrielli vai ser meu assessor - disse Lula, em tom de brincadeira, na reunião com Chávez e as equipes dos dois governos.

Depois, em entrevista coletiva ao lado de Chávez, o brasileiro destacou a independência da Petrobras, assim como da PDVSA:

- Só não foi possível a gente concluir o acordo entre Petrobras e PDVSA porque são duas moças muito bonitas, muito fortes, e que disputam milimetricamente cada problema.

E se queixou da burocracia ao falar da demora no acordo entre as duas estatais:

- Se a construção da Muralha da China levasse o mesmo tempo que a Petrobras e a PDVSA, a humanidade acabaria e a gente não teria o primeiro quilômetro da Muralha.

Por causa de uma falha no sistema de tradução, parte do áudio da sala onde os presidentes estavam vazou à imprensa, que acompanhou a discussão sobre o impasse nas negociaçòes. Descoberto o erro, a assessoria passou a recolher, desesperadamente, os aparelhos de tradução dos jornalistas. Conforme o áudio, Chávez não escondeu a irritação com o prazo de 90 dias para as negociações:

- Confesso que tenho frustração. A culpa é de ambos. É lamentável. Não fomos capazes de fechar o acordo.

Os dois presidentes trataram da polêmica nacionalização de empresas venezuelanas. Chávez disse, na reunião com Lula, que não pretende fazer o mesmo com os investimentos brasileiros.

- Estamos nacionalizando o país. Menos as empresas brasileiras - afirmou, rindo.

Brasil e Venezuela assinaram um acordo de liberalização comercial para permitir o acesso do país vizinho ao Mercosul. O documento estabelece um prazo, de 2014 a 2018, para a Venezuela se adequar à Tarifa Externa Comum (TAC). A proposta de adesão da Venezuela ao Mercosul foi aprovada na Câmara, mas falta o aval do Senado.

- Espero que o Senado vote rapidamente isso, antes da próxima reunião em Caracas - declarou. O próximo encontro deve ocorrer em 90 dias.

A concessão de empréstimo do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para empresas brasileiras investirem em obras no vizinho, outra reivindicação da Venezuela, ainda não foi assinada. Em 45 dias a Venezuela apresentará lista de todas as obras que deseja financiar. O BNDES deverá emprestar US$4,3 bilhões.

Lula negou ontem ter sugerido ao líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), não ceder ao senador ACM Júnior (DEM-BA) a presidência da CPI criada no Senado para investigar a Petrobras:

- Não pedi para tirar o Democratas nem para os tucanos não serem nem para o PT não ser. É um problema do Senado.

Perguntado se confia no PMDB para ficar à frente da CPI, esquivou-se:

- A CPI é um problema do Congresso. Eles vão se reunir e indicar quem é que deve ser o presidente e o relator. O presidente da República não tem competência para dar palpite em quem deve ser o membro da direção (da CPI).

Lula também negou que o governo articule para atrasar o início dos trabalhos da CPI:

- Pelo contrário. Acho que a CPI está aprovada. Eles que façam. Todos somos maiores de idade e temos responsabilidade política. A CPI está instalada. Que comece a trabalhar.

* Enviado especial