Título: Meirelles rejeita regular câmbio
Autor: Rodrigues, Luciana
Fonte: O Globo, 27/05/2009, Economia, p. 19

Para presidente do BC, política monetária não deve atuar "como uma biruta"

Aguinaldo Novo

SÃO PAULO. No dia em que o dólar retrocedeu ao patamar de outubro passado, o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, rejeitou a possibilidade de usar a política monetária para evitar novas quedas na cotação da moeda americana. Segundo ele, a atual política tem como objetivo manter a inflação na meta, não regular a taxa de câmbio.

- Alguns analistas parecem crer que o objetivo da política monetária deve ser cambiante, segundo a conveniência do momento, ora voltados para o equilíbrio interno, ora para o externo. A consequência seria ter um regime monetário errático, uma política monetária que atuaria como uma biruta ao sabor do vento, e não a âncora da estabilidade econômica - afirmou Meirelles.

Na sexta-feira passada, também falando sobre o câmbio, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a dizer que o governo estava "preocupado" com os efeitos da desvalorização do dólar para as exportações. Para deter as quedas de cotações, o ministro defendeu novos cortes dos juros e maiores intervenções do BC no mercado à vista de câmbio.

Segundo o presidente do BC, porém, os movimentos do câmbio seguem "diversos fatores", como as condições da economia mundial e a confiança dos investidores. Se a tarefa do governo fosse evitar a desvalorização do dólar, acrescentou ele, o Copom deveria ter "implementado forte elevação da taxa Selic (que serve de referência para o mercado) no último trimestre de 2008, com as consequências que todos podem imaginar":

- Sob o regime atual, que vem servindo muito bem ao Brasil nestes últimos dez anos, cabe à taxa de câmbio, e não à taxa de juros, reagir a toda esta combinação de fatores.

BC: reservas já são maiores do que quando começou a crise

As afirmações foram feitas em seminário organizado pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Na plateia, executivos das principais instituições financeiras do país. Depois desse evento, Meirelles participou de debate organizado pelo Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças (Ibef), com a participação de presidentes de várias empresas.

Em discurso, voltou a rebater as críticas de que o BC tem atuado com extremo conservadorismo na administração dos juros.

- A inflação tem oscilado em torno do centro da meta. (...) Se conjugarmos isso com a curva de crescimento da demanda nos últimos anos, veremos que a palavra "excessivamente" antes de "conservador" talvez esteja um pouco inadequada - disse, citando que a taxa real de juros está hoje em 5,2%, seu menor patamar histórico.

O presidente do BC afirmou ainda que, como efeito da atual política, o país conseguiu recompor suas reservas internacionais.

- Conseguimos recompor as reservas e, hoje, temos US$205,4 bilhões, ou seja, mais do que quando começou a crise (US$205,1 bilhões).

Meirelles afirmou ainda que os administradores de fundos de investimento devem "evitar os erros que levaram à crise global", como excesso de euforia, falta de transparência e incorreta medição para o risco.