Título: Contas externas tiveram saldo positivo em abril, após 18 meses no vermelho
Autor: Rodrigues, Eduardo
Fonte: O Globo, 27/05/2009, Economia, p. 20

Balança comercial e queda nas remessas de lucros de empresas puxam resultado

Eduardo Rodrigues

BRASÍLIA. Após 18 meses consecutivos registrando déficits, a conta de transações correntes, que é o resultado de todas as operações do Brasil com outros países, ficou positiva em US$146 milhões em abril, de acordo com dados divulgados ontem pelo Banco Central (BC). Segundo o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, o superávit é decorrente do bom desempenho na balança comercial - diferença entre exportações e importações, com saldo de US$3,712 bilhões - e da queda no volume de remessas líquidas de lucros e dividendos de empresas para suas matrizes para exterior, US$1,716 no mês.

- As remessas vêm caindo de forma expressiva e foram a metade das registradas em abril do ano passado (US$3,686 bilhões). Além disso, o saldo comercial foi muito positivo, extrapolando aquela sequência de resultados da ordem de US$1 bilhão dos primeiros meses do ano - disse.

No entanto, Lopes afirmou que o superávit no mês não significa mudança de tendência na conta. A estimativa do BC para maio é de um novo resultado negativo, na casa de US$2,3 bilhões, entre outros fatores, porque a valorização do real nas últimas semanas favorece uma retomada nas remessas. No quadrimestre, as transações correntes acumulam um saldo negativo de US$4,874 bilhões.

A despesa líquida com viagens internacionais caiu para US$382 milhões, contra US$500 milhões em abril de 2008. Em maio, até ontem, o gasto líquido dos brasileiros em trânsito no exterior chegava a US$367 milhões.

Os desdobramentos da crise econômica mundial ainda causam impacto na conta capital e financeira, que registra o fluxo de entrada e saída de valores que não se destinam ao comércio de bens e serviços. Essa parte do balanço de pagamentos brasileiro obteve superávit de US$1,905 bilhão em abril, bem inferior aos US$8,291 bilhões apurados no mesmo mês do ano passado.

Os investimentos estrangeiros diretos totalizaram US$3,409 bilhões no período, com destaque para a indústria farmacêutica. O resultado ficou próximo do registrado no quarto mês de 2008 (US$3,872 bilhões). A autoridade monetária estima o ingresso de US$2,6 bilhões em maio deste ano.

- O número foi positivo e também teve uma distribuição setorial boa, bastante dispersa, um sinal de que a melhora do dinamismo dos investimentos tem se acentuado - afirmou Lopes.

Investimento em ações quadruplica em maio

Já o investimento estrangeiro líquido em carteira somou apenas US$247 milhões em abril, frente a US$4,408 bilhões no mesmo período do ano passado. O saldo em ações negociadas no país ficou em US$639 milhões (contra US$5,865 bilhões em abril de 2008). Mas, com a enxurrada de dólares que desembarcou na Bolsa de Valores nas primeiras semanas de maio, o resultado, apurado até ontem, praticamente quadruplicou, e já chega a US$2,365 bilhões.

As intervenções do BC no mercado de câmbio em abril somaram US$1,301 bilhão. Para tentar conter a valorização do real frente ao dólar em razão da forte entrada de moeda estrangeira no país em maio, a autoridade agiu mais agressivamente e já havia comprado US$2,408 bilhões no mercado à vista até o dia 22. No início da noite, o BC emitiu nota informando que passará a divulgar semanalmente o volume das intervenções.