Título: É hora do vestibular unificado
Autor: Vieiralves, Ricardo
Fonte: O Globo, 29/05/2009, Opinião, p. 7

Provocado pelo debate sobre a proposta do Ministério da Educação (MEC) de um novo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), proponho publicamente aos reitores das universidades e instituições públicas de ensino superior instaladas no Estado do Rio de Janeiro a realização de um vestibular unificado para o ingresso em nossas instituições. O reitor Aloísio Teixeira, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, concorda com a minha posição e o secretário estadual de Ciência e Tecnologia, Alexandre Cardoso, também é entusiasta da ideia.

A maratona de provas a que submetemos os estudantes de ensino médio para o ingresso em nossas instituições é antipedagógica e produz resultados mais negativos do que esperávamos em nossa boa intenção de promover vestibulares por instituição.

Impomos uma vivência de estresse prolongada que imperativamente interfere sobre o desempenho dos estudantes. As provas começam no ano anterior e arrastam-se até o final do mês de janeiro do ano em que ingressam na instituição.

Se o estudante resolver fazer o vestibular para a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade do Estado (Uerj), Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), Unirio, Universidade Federal Fluminense (UFF) e Centro Federal de Educação Tecnológica (Cefet-Rio) terá que desembolsar R$417 de taxas de inscrição, o que é caro e injusto com os cidadãos de nosso estado.

O principal argumento utilizado no passado foi o de que precisávamos definir, a partir da prova de vestibular, um perfil de estudante que estivesse adequado à cultura e à especificidade da instituição.

Na realidade atual, o estudante que passa para a UFRJ é o mesmo aprovado na Uerj e nas outras instituições de ensino. Isto nos causa problemas na matrícula, impondo-nos sucessivas reclassificações para não ficarmos com vagas ociosas e, mesmo assim, ainda começamos o ano letivo com alguns cursos sem todas as vagas preenchidas, o que considero muito grave.

Estamos também estimulando a omissão das escolas de ensino médio em relação à orientação vocacional. Como os estudantes não se sentem obrigados a fazer a escolha profissional no ato de inscrição no vestibular, é muito comum inscreverem-se em várias carreiras. As escolas abdicaram da informação, do apoio e do bom aconselhamento para a decisão profissional, muito importantes para a vida de qualquer pessoa.

Muitas vezes observei estudantes que iam fazer vestibular com as seguintes escolhas: Física na UFRJ, Medicina na Uerj e Teatro na Unirio, ou qualquer combinação desta espécie. Na Uerj, realizamos no passado uma pesquisa sobre o que motivava a evasão e encontramos em primeiro lugar a escolha errada da profissão. Estamos alimentando a ociosidade do sistema, a frustração de jovens e a omissão das escolas de ensino médio.

É necessário que os governos apoiem esse projeto de unificação do vestibular. Como nossos orçamentos são insuficientes, os recursos auferidos com a cobrança de taxas nos servem para investimentos nas áreas fins de nossa instituição.

Na Uerj, por exemplo, estamos montando salas de aula com tecnologias educacionais de ponta e adquirindo micro-ônibus para os trabalhos de campo. Os governos devem fazer sua parte e compensar nossas instituições com recursos para investimento na atividade-fim.

Convido nossas coirmãs públicas, por meio de seus reitores, a instalarmos imediatamente um consórcio que organize, prepare e aplique um vestibular unificado a partir de 2011, conferindo tempo às escolas de ensino médio para se prepararem para esta nova situação e realizando com prudência uma mudança de tal vulto.

É preciso interromper este ciclo, pois não estamos exercendo muito bem nosso dever de educadores.

RICARDO VIEIRALVES é reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).