Título: Contradições jamais foram respondidas
Autor:
Fonte: O Globo, 30/05/2009, O País, p. 4

Dossiê do senador omite esclarecimento sobre denúncias

Antes da publicação da entrevista de Marcos Vinícius Andrade, que foi funcionário de confiança do senador Gerson Camata por quase 20 anos, o repórter Chico Otavio ouviu o senador, que se defendeu, negou as acusações e acusou o ex-servidor de ter problemas psiquiátricos. Posteriormente à publicação, O GLOBO insistiu para que o senador apresentasse suas explicações sobre contradições entre documentos apresentados pelo ex-servidor e a defesa do senador, tendo enviado um e-mail para a assessoria e seu chefe de gabinete no Senado. O questionário jamais foi respondido. Na ocasião, o gabinete de Camata limitou-se a dizer que o advogado do senador procuraria o repórter, fato que também não ocorreu.

Na declaração de bens de 2002, apresentada à Justiça Eleitoral, o senador reconhece ser proprietário de 50% de um apartamento no Ed. Pietrangelo Debiasi 601, em Vitória. Marcos Vinícius apresentou carnês de IPTU comprovando que pagou todos eles, além de pagar também o IPTU do escritório político do senador, no Edifício Nacap, no Centro de Vitória. O carimbo eletrônico da instituição bancária comprova a origem dos recursos. Além dos carnês, o ex-servidor obteve da administração do condomínio do escritório declaração de que era o responsável pelos pagamentos regulares das despesas do senador (o repórter tem as cópias). A mesma solicitação foi feita à administração do Pietrangelo, mas o pedido não foi atendido. Em sua defesa, o senador mostrou cinco depósitos, concentrados no mesmo ano. Mas Marcos Vinícius alega que pagou as despesas do senador por mais de uma década.

Para sustentar sua afirmativa sobre caixa dois e notas frias, Marcos Vinícius entregou ao repórter a lista de prestadores de serviços da campanha de 2002, assinalando as despesas supostamente falsas, inclusive a sua própria. Ao todo, ele marcou nove nomes. De posse da lista, o repórter solicitou ao gabinete acesso aos funcionários e provas do tipo de serviço prestado à campanha. O pedido nunca foi atendido. Em vez disso, o senador pediu que cada um dos nomes citados assinasse declaração padrão, com data posterior à entrevista, em que os funcionários, até hoje vinculados ao gabinete, afirmam ter prestado o serviço.

Também após a entrevista, Camata divulgou lista de veículos de sua propriedade. Ao checar a lista, o repórter constatou a inexistência de qualquer documento referente ao Jetta. Pelas alegações do senador, o carro não existia. O repórter comprovou que a lista era incompleta e que o Jetta, citado na entrevista de Marcos Vinícius, era real: a placa do Jetta registrado em nome do senador é MRS1097. Diante das evidências, a assessoria de Camata refez a lista.

Ao fazer referência ao apartamento em Brasília, Marcos Vinícius não denunciou que Camata ganharia dinheiro alugando imóveis para diplomatas em Brasília - de fato não há comprovação de aluguel para diplomatas. Sua intenção foi denunciar a existência de um apartamento próprio do casal Camata em Brasília, o que dispensaria, assim, o auxílio-moradia oficial. Camata tem participação em outro imóvel em Brasília, segundo sua declaração de renda entregue à Justiça Eleitoral.

Sobre a obra em Vitória entregue a um consórcio com a participação da Odebrecht, o repórter que Camata, como governador, aprovou a obra e tinha ligações com dois funcionários da empreiteira citados por Marcos Vinícius, além de ter recebido doação oficial da empresa para a campanha eleitoral.