Título: Camata contesta acusações de seu ex-servidor e tesoureiro de campanha
Autor:
Fonte: O Globo, 30/05/2009, O País, p. 4

Senador prepara dossiê para negar notas frias e recebimento de propina

O senador Gerson Camata (PMDB-ES) divulgou o documento "À calúnia, respondo com provas", para contestar denúncias de seu ex-funcionário Marcos Vinícius Andrade, publicadas pelo GLOBO no dia 19 de abril. Sobre a acusação de que se apropriava de parte do salário do ex-servidor, que além de responsável pelo comitê financeiro de sua campanha era também funcionário do gabinete no Senado, Camata apresentou cópias da agenda de sua secretária com anotação de reembolsos e extratos bancários de transferências para a conta do ex-servidor relativas a despesas pagas por ele.

Na entrevista ao GLOBO, Marcos Vinícius Andrade disse que, por mais de uma década, até o estabelecimento das verbas indenizatórias, reservava 30% do seu salário para o pagamento de despesas pessoais do senador sem reembolso. Para se defender, Camata apresenta quatro anotações manuscritas por sua secretária, uma referente ao ano de 1998 e três de 2002, em que aparecem determinadas despesas vinculadas a valores e ao nome "Marcos". Além disso, apresenta cinco depósitos que diz ter feito, estes em 2002, na conta do ex-funcionário, supostamente destinadas ao reembolso de despesas.

Declarações de servidores feitas após a publicação

Na entrevista, Marcos Vinícius dissera que só deixou de pagar despesas pessoais de Camata quando este passou a receber verba indenizatória do Senado. Em sua resposta, Camata alega que Marcos foi exonerado do cargo de secretário parlamentar em 25 de março de 2003, enquanto o ofício de sua primeira solicitação da verba indenizatória foi feito em 1º de abril do mesmo ano.

Sobre a afirmação de Marcos Vinícius Andrade de que, para "esquentar" determinado valor de sobras de campanha, dinheiro esse não contabilizado, o senador obrigou nove de seus funcionários a assinarem recibos de prestação de serviços posteriormente apresentados à Justiça Eleitoral, Camata, em sua defesa, exibe a prestação de contas à Justiça Eleitoral, com a informação de que foi aprovada, além de declarações do pessoal de apoio de recebimentos "exatamente compatíveis com os declarados ao TSE".

O senador também respondeu à acusação de que teria burlado o uso da verba indenizatória do Senado requisitada para o aluguel do carro Golf GTI 2005, ao fazer um contrato de "gaveta" com o dono da empresa proprietária do veículo, a King Automóveis, no qual o dinheiro destinado ao aluguel serviria, na prática, para a compra parcelada do veículo. O dinheiro, afirmou Marcos Vinícius, posteriormente teria sido usado na compra de outro carro, da marca Jetta. Camata apresenta declaração do proprietário da King reafirmando o aluguel do Golf, além de extrato bancário comprovando a venda do Golf para terceiros e o comprovante de transferência.

Na entrevista, Marcos Vinícius referiu-se ainda a uma doação paralela, que teria sido feita pelo ex-governador e deputado paulista Paulo Maluf, destinada a cobrir dívidas de campanha da deputada Rita Camata quando disputou a prefeitura de Vitória, em 1996. Para contestar, Camata apresenta duas declarações, uma delas do jornalista Nilo Martins, negando a existência de dívida com Camata, e outra de Maluf, negando a doação.

Camata contesta ainda a afirmação de que teria uma empresa de vinho, apresentando declaração de seu próprio contador de que a empresa está inativa.

Na entrevista, Marcos Vinícius Andrade diz que o senador e sua mulher recebem auxílio-moradia do Senado e da Câmara, respectivamente, mesmo tendo apartamento em Brasília, que teria sido alugado a alguém de corpo diplomático. Para contestar, Camata apresenta uma declaração do síndico do Edifício Cap Ferrat dizendo que o casal mora no apartamento.

Sobre a acusação de Marcos Vinícius de que, durante um período posterior à construção da Terceira Ponte, em Vitória, Camata recebeu pagamentos regulares por sua atuação favorável aos interesses da empreiteira, responsável por uma etapa da obra, Camata apresenta uma carta da Odebrecht negando o pagamento. E o senador anexou ainda laudo médico dizendo que Marcos Vinícius, seu funcionário de confiança por quase 20 anos, tem "quadro de tristeza, desânimo, insônia, perda de peso, mágoas, apatias", além de ser hipocondríaco.