Título: Número de mortos no Piauí sobe para 11
Autor: Robeiro, Efrém
Fonte: O Globo, 30/05/2009, O País, p. 9

Inundação provocada por rompimento de barragem destrói as famílias dos Sousa e dos Silva; ainda há 4 desaparecidos.

COCAL (PI). Aumentaram para 11 os mortos em consequência do rompimento da Barragem Algodões I, em Cocal, a 270 quilômetros de Teresina, ocorrido na quarta-feira. A Defesa Civil da Prefeitura de Cocal divulgou os nomes de dez mortos. Elas pertenciam a duas famílias, os Silva e os Sousa. E o Corpo de Bombeiros localizou o corpo de José Francisco Alves dos Santos, de 36 anos, a 11avítima, em Angico.

O número de desaparecidos diminuiu de 19 para quatro.

O secretário de Segurança Pública, Robert Rios Magalhães, disse que foram sepultados cinco corpos. Bombeiros e policiais continuam resgatando famílias, com a ajuda de helicópteros.

O fazendeiro Corsino Félix, disse que sobreviveu em cima de uma árvore.

¿ Estou há três dias sem comer, sem beber. Perdi tudo ¿ disse Corsino, relatando que as águas levaram o gado e a fazenda, e que sua caminhonete foi parar em cima de um cajueiro.

A situação ainda continua dramática. O prefeito de Cocal, Francisco Sales Filho (DEM), disse que cerca de 350 famílias estão isoladas. Segundo ele, 4,5 mil pessoas foram atingidas pela enxurrada.

Mais de 120 casas ficaram destruídas. O governador Wellington Dias (PT) solicitou que o Exército reforce o trabalho de resgate e de ajuda aos desabrigados em Cocal e Buriti dos Lopes, no Norte do Piauí, cedendo mais 30 homens. Segundo Dias, o Exército já tem 30 homens na região. Wellington recebeu telefonemas de solidariedade do presidente Lula. Os municípios atingidos vão receber R$ 750 mil do governo estadual, para obras emergenciais.

Continua chovendo na região.

A destruição da ponte na rodovia BR-343, a cinco quilômetros de Buriti dos Lopes e a 30 quilômetros de Parnaíba, deixou todo o litoral piauiense isolado. A enxurrada também provocou erosão nas cabeceiras da ponte sobre o Rio Pirangi, na BR-343.

Há um rasgo de cerca de 50 metros nos dois lados da ponte.

¿ Apenas em Parnaíba, são 150 mil pessoas isoladas, correndo o risco de ficar sem alimentação ¿ disse o prefeito de Parnaíba, José Hamilton Castelo Branco (PTB).

Boletim do governo do Piauí informa que cerca de cem famílias estão isoladas na zona rural de Buriti dos Lopes. As cidades de Cocal e Cocal dos Alves, que têm, juntas, 31.500 habitantes, estão sem energia elétrica. A primeiradama do Piauí, Rejane Dias, que sobrevoou áreas atingidas pela enxurrada, disse que foram enviados geradores.

Wellington Dias (PT) determinou que a Secretaria de Segurança Pública abra um inquérito para a apurar as causas e responsabilidades do rompimento da barragem. O secretário Robert Magalhães afirmou que serão ouvidos os engenheiros responsáveis pela obra, o prefeito de Cocal e gestores estaduais. O procurador da República no Piauí, Kelston Lages, determinou a abertura de procedimento investigatório para apurar responsabilidades no caso.

¿ Vamos ter cautela, mas tudo será apurado. Serão avaliados os crimes, pois as famílias foram orientadas a voltar para suas casas porque não haveria mais riscos. Não foi o que aconteceu ¿ disse Lages, que pedirá indenização para as famílias.

Foi criado um comitê técnico para fazer uma avaliação do ocorrido. Além de gestores estaduais, integrarão o comitê representantes do Ministério Público, da Universidade Federal do Piauí, da Associação Piauiense de Engenheiros e da Defensoria Pública. O engenheiro Bertolino Madeira, assessor do governo do Piauí, afirmou que o engenheiro Luis Ernedes, que autorizou a volta das famílias para as regiões próximas à barragem, tomou a atitude por acreditar que as chuvas haviam cessado.

¿ Baseado em sua experiência, ele calculou que não haveria chuvas capazes de fazer essa destruição. O volume de água que caiu em 48 horas provocou essa ação rápida ¿ disse.

A empresa responsável pela construção da barragem, a Getel, já foi notificada. A obra tem quase dez anos, e a garantia era de cinco. Portanto, a empresa não poderá ser responsabilizada.

A Secretaria Nacional de Defesa Civil (Sedec), do Ministério da Integração Nacional, disponibilizou alimentos, material de limpeza, colchões, cobertores, travesseiros e filtros. Desde ontem, técnicos do órgão estão no Piauí para ajudar nas ações de retirada da população das áreas de risco e no levantamento dos danos materiais e humanos causados pelo rompimento da barragem.