Título: Presidente do BC: não é preciso taxar estrangeiros, mas governo está atento
Autor: Novo, Aguinaldo; Beck, Martha
Fonte: O Globo, 30/05/2009, Economia, p. 28

ONDA VERDE: Alta de imposto não teve efeito em 2008 por causa do juro alto

Impacto da queda do dólar sobre exportações preocupa equipe econômica

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que não seria "necessário e justificável" taxar neste momento os investimentos estrangeiros em renda fixa. Segundo ele, os ingressos de dólares no país estão concentrados em investimentos diretos estrangeiros e aplicações na Bovespa. Mas Meirelles deixou uma porta aberta para algum tipo de medida, ao dizer que "evidentemente, o governo está sempre atento, olhando as modificações de cenário para tomar medidas nesta e em outras áreas".

A equipe econômica está preocupada com a forte valorização do real em relação ao dólar, que prejudica principalmente as exportações. No entanto, a avaliação dos técnicos é de que ainda não é o caso de se tomar alguma medida mais intervencionista para tentar conter a entrada da moeda americana no país. Por enquanto, o BC vai continuar comprando dólares para enxugar o mercado e aumentar as reservas.

O próprio Meirelles disse na última quarta-feira, no Congresso, que o atual fluxo de dólares para o Brasil é resultado de investimentos em Bolsa e em empresas, ou seja, não se trata de capital especulativo. Caso o governo entenda que é preciso intervir mais fortemente no mercado, a volta da cobrança do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) sobre investimentos estrangeiros em renda fixa seria uma opção a ser adotada. No início de 2008, essa cobrança foi feita como forma de reduzir o fluxo de dólares para o país e também para ajudar a compensar as perdas do governo com o fim da cobrança da CPMF. Mas não teve impacto, já que o ganho com juros compensava mesmo com o imposto.

Guido Mantega diz que entrada de capitais é positiva

Ontem, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, negou que o governo cogite tributar o ingresso de capitais com IOF. Ele disse que não há interesse em reduzir o fluxo, que está positivo, ao contrário de outros países.

- O governo não está cogitando implantar IOF para nenhuma modalidade, especialmente títulos públicos. Existe uma entrada de capitais que é positiva e mostra que o país é mais confiável. Queremos que haja compra de títulos públicos, principalmente por estrangeiros. Não há interesse em reduzir esse fluxo. Em outros países, há saída de capitais. Nós temos entrada - afirmou Mantega.

O presidente do BC voltou a dizer que o mercado não deve se "precipitar" e considerar o curto prazo para tomar decisões "que no passado se provaram desastrosas".

- É momento para ter calma e tranquilidade - afirmou.

Convênio com Argentina sobe para US$1,5 bi

Perguntado sobre o interesse de o BC aumentar o ritmo de intervenções no mercado, respondeu que "não há ansiedade para comprar (dólares) ou falta desse desejo. Nossa política é comprar de acordo com o seu fluxo". Meirelles participou de reunião, em São Paulo, com empresários e banqueiros brasileiros e argentinos.

O principal assunto foi a aprovação, pelo BC brasileiro e pelo CMN, do aumento do limite do Convênio de Pagamento e Crédito Recíproco (CCR), de US$120 milhões para US$1,5 bilhão. Anunciado em abril pelos ministros Mantega e Carlos Fernández, a medida foi aprovada na quinta-feira pelas autoridades brasileiras. Ficou agendado para 30 de outubro novo encontro entre os BCs dos dois países.