Título: Manobra adia instalação da CPI da Petrobras
Autor: Vasconcelos, Adriana; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 03/06/2009, O País, p. 3

Oveto do líder do PMDB, Renan Calheiros (AL), ao nome do líder Romero Jucá (PMDB-RR) para a relatoria da CPI da Petrobras no Senado levou ontem o governo a adiar a instalação da comissão para amanhã. O ministro das Relações Institucionais, José Múcio Monteiro, não conseguiu fechar um acordo com o líder peemedebista, que deixou subentendido que não aceitaria ser enquadrado. A expectativa agora é que o presidente Lula, que chega ao Brasil hoje à noite, intervenha para resolver o impasse.

A manobra de adiamento da instalação da CPI foi comandada pessoalmente por Renan após se reunir com Múcio e outros líderes aliados, quando foi reafirmada a falta de consenso no grupo. Renan determinou aos representantes de sua bancada que não comparecessem à sessão e orientou o senador Paulo Duque (PMDB-RJ) - parlamentar mais velho da CPI - que nem abrisse a reunião. Duque cumpriu o combinado. Chegou pontualmente às 14h e esperou só 13 minutos antes de anunciar a falta de quórum.

- Como a sessão nem foi aberta, não preciso encerrá-la. Como os integrantes da CPI não chegaram, estou me retirando - comunicou Duque, diante da perplexidade do senador Antonio Carlos Magalhães Júnior (DEM-BA), único presente.

Para disfarçar a crise na base, o governo justificou o adiamento alegando que só daria quórum para a instalação da CPI depois que a oposição devolvesse ao senador Inácio Arruda (PCdoB-CE) a relatoria da CPI das ONGs.

- Chance zero de devolvermos a relatoria para o governo. Isso é pano de fundo! É para iludir o desentendimento entre eles próprios. Estão tentando ganhar tempo para buscar o entendimento do PT com o PMDB - acusou o líder do DEM, senador José Agripino (RN).

O principal motivo da resistência de Renan à indicação de Jucá é o fato de o nome do líder do governo ter sido lançado pelo líder do PT, Aloizio Mercadante (SP). O clima entre os dois está tão ruim que Mercadante acabou excluído da reunião que Múcio teve ontem de manhã no gabinete do líder do PTB, Gim Argello (DF). Mas, como parte do esforço de consenso, participou da reunião da noite.

"Vou escolher com calma", diz Renan

Na reunião da manhã, Renan deixou claro que a indicação do relator caberia ao PMDB. Seu preferido é Paulo Duque, mas, se não conseguir fazê-lo relator, tentará emplacá-lo presidente da CPI, o que deixaria o governo ainda mais refém de Renan, já que é o presidente quem escolhe o relator.

- Desde o início eu disse que era contra a indicação de líderes. Não faço restrição a ninguém, mas não dá para piscar antes. Para que essa ansiedade? Vou escolher com calma, sem precipitação - afirmou Renan, à tarde, de forma lacônica.

Mercadante reforçou o discurso do governo de que a CPI da Petrobras só seria instalada depois de retomado o acordo com a oposição na CPI das ONGs. Jucá pediu à Mesa a anulação da indicação do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), para a relatoria, depois que Inácio Arruda foi indicado para integrar a CPI da Petrobras como titular. Os governistas alegam que a oposição não poderia ter rompido o acerto pelo qual ficou com a presidência da comissão, mesmo sem ter maioria.

A oposição tentou protestar contra o adiamento da instalação da CPI, mesmo tendo contribuído para o sucesso da manobra de Duque. Dos três representantes do PSDB e DEM, apenas ACM Júnior não se atrasou. Quando os outros dois titulares chegaram - Sérgio Guerra (PE) e Álvaro Dias (PR) -, já era tarde. O mesmo aconteceu com João Pedro (PT-AM), um dos cotados para presidente, que só soube da tática governista ao chegar.

Em carta enviada ontem ao GLOBO, Renan negou que tenha insistido na escolha do relator da CPI, disse que aos líderes cabe consultar suas bancadas sobre o melhor encaminhamento para um acordo entre todas as partes e reafirmou que o ideal é que os líderes partidários não integrem os quadros da comissão.

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